MIT em Portugal (?)

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Corsario-Negro
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MIT em Portugal (?)

Mensagem por Corsario-Negro »

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?s ... ews=206461

A entrada do Massachusetts Institute of Technology (MIT) em Portugal pode estar em risco devido a divisões no interior do Governo relativamente ao Plano Tecnológico.


Ao que o Diário Económico apurou, a Universidade Nova de Lisboa já ofereceu 20 hectares junto à sua Faculdade de Ciências e Tecnologia, no Monte da Caparica, para ali ser instalado um pólo de investigação e formação de pós-graduados em Portugal, mas o reitor da UNL, Leopoldo Guimarães, revelou ao jornal que as negociações estão cada vez mais difíceis.

As negociações já deveriam estar fechadas há cerca de um mês, mas até ao momento nenhuma decisão foi anunciada.

Uma das exigências colocadas pelo instituto norte-americano é que o MIT possa recrutar investigadores junto de todas as universidades nacionais, hipótese que não agrada a alguns elementos do Executivo.

Estes defendem que seja apenas uma universidade portuguesa, nomeadamente o Instituto Superior Técnico (IST), a deter a exclusividade da parceria com o MIT.

Lista dos artigos originais do Diário Económico


Enfim... :roll: ... é só menininhos do IST este governo?

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Pedro
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Mensagem por Pedro »

Não percebo o porquê de ser só o IST. Aliás, o IST é mais reputação que outra coisa. Eu andei lá um anito, deu para ver o equipamento incrivelmente desactualizado, os professores que passavam mais tempo no INESC que no IST, as aulas de programação no papel porque não havia computadores para os alunos, etc etc etc. É uma imposição ridícula, mas este governo já me está a habituar ao ridículo. Pelo meio acho que já mudaram duas vezes o responsável pelo "plano tecnológico"... qualquer dia estão a contratar a gaja do Threshold para fazer o plano. :?

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Lino
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Mensagem por Lino »

Enfim o raio da exclusividade é idiota...
Portugal nem deveria pensar duas vezes em apoiar parcerias das várias Unis portuguesas com este Instituto tão importante na área das ciências e tecnologia. Isso seria um contributo para o desenvolvimento tecnológico!!

Plano tecnológico é tão bom como o choque fiscal do Barroso... :roll:

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Corsario-Negro
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Mensagem por Corsario-Negro »

Só para terem uma idea, o MIT só tem um polo tecnológico fora dos EUA e é em Singapura, de resto só tem protocolos esporádicos em França e outros países, etc... nada de pólos de investigação... e este governo ainda mete imposições ridiculas... enfim.

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dawn_to_dusk_
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Mensagem por dawn_to_dusk_ »

se calhar eles nao tem tacho e querem raspar a panela à força toda.

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jpgmn
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Mensagem por jpgmn »

Acho bem a instalação de um polo do MIT em Portugal.
A questão da exclusividade é um pouco parva... ainda se fosse o MIT a impôr, agora o governo...

E Sim, andei no IST e gostei muito mesmo!

7 anos fantásticos!

Abraços,

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pedrotuga
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Mensagem por pedrotuga »

jpgmn Escreveu:Acho bem a instalação de um polo do MIT em Portugal.
A questão da exclusividade é um pouco parva... ainda se fosse o MIT a impôr, agora o governo...

E Sim, andei no IST e gostei muito mesmo!

7 anos fantásticos!

Abraços,
Subscrevo sem mudar uma virgula.

por que raio é que o governo ha-de fazer restricoes dessas qdo o proprio MIT nao as fez?

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Pedro
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Mensagem por Pedro »

Corte tecnológico

Braço de ferro entre Mariano Gago e José Sócrates a propósito do Plano Tecnológico só terá resolução após as presidenciais.

O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, está a travar a instalação em Portugal de um centro de investigação do Massachusets Institut of Tecnology (MIT), uma das maiores universidades na área da investigação tecnológica, sedeada nos EUA, e que representa um dos pontos-chave do chamado Plano Tecnológico, bandeira eleitoral do PS, durante a campanha para as legislativas.

O braço-de-ferro com o primeiro-ministro, José Sócrates, a respeito do MIT, levou mesmo Mariano Gago, de acordo com informações recolhidas pelo PortugalDiário a manifestar a intenção de deixar o Governo.

Quando na quarta-feira, durante um seminário organizado pela revista «The Economist», o antigo responsável pelo Plano Tecnológico, José Tavares, abordou o primeiro-ministro acusando-o de ter o projecto do MIT há meses na gaveta, acrescentando que aquele estava a ser travado por um ministro, José Sócrates respondeu, visivelmente incomodado, que é ao Governo que compete tomar decisões nesta matéria.

De acordo com informações recolhidas pelo PortugalDiário, o ministro de que José Tavares falava é Mariano Gago e as razões prendem-se com as suas ligações ao Instituto Superior Técnico (IST) e os esforços que estará a desenvolver para que o projecto conte com a parceria exclusiva do IST, excluindo dele todas as universidades.

Várias fontes ouvidas pelo PortugalDiário assumem que o ministro da Ciência entrou em rota de colisão com José Sócrates por causa do MIT. Enquanto o primeiro-ministro admitia o estabelecimento de parcerias entre a instituição norte-americana e várias universidades portuguesas, Mariano Gago insistia em reservar essa colaboração ao Instituto Superior Técnico.

O antigo presidente da Agência para a Inovação, Borges Gouveia, nomeado pelo Governo de Durão Barroso, não tem dúvidas de que o ex-responsável pelo Plano Tecnológico se referia a Mariano Gago e que os interesses do ministro em desenvolver o projecto em exclusivo com o IST têm uma explicação.

«Mariano Gago, ministro da Ciência e Ensino Superior, Manuel Heitor, secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, e João Sentieiro, presidente da Fundação Ciência e Tecnologia, são o Estado-Maior da Ciência e Tecnologia. O que têm em comum? Todos têm ligações ao Técnico. Só não vê quem não quer», atira o antigo presidente da Agência para a Inovação.

A informação de que Mariano Gago apresentou a demissão, há vários meses, já chegou ao antigo presidente da Agência para a Inovação, ou por via de «boato insistente no meio académico» ou por meios «mais credíveis».

Contactado pelo PortugalDiário, fonte do gabinete de imprensa do ministro da Ciência diz que Mariano Gago «não quer comentar a polémica em torno do MIT» e garante que o governante «não está de saída» do Executivo.

Fonte: Portugal Diário
Aparentemente não é todo o governo, mas apenas um ministro. Se isto for mesmo verdade, acho que a única coisa que Mariano Gago devia fazer era demitir-se. :?

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Pedro
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Mensagem por Pedro »

Corte tecnológico

Braço de ferro entre Mariano Gago e José Sócrates a propósito do Plano Tecnológico só terá resolução após as presidenciais.

O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, está a travar a instalação em Portugal de um centro de investigação do Massachusets Institut of Tecnology (MIT), uma das maiores universidades na área da investigação tecnológica, sedeada nos EUA, e que representa um dos pontos-chave do chamado Plano Tecnológico, bandeira eleitoral do PS, durante a campanha para as legislativas.

O braço-de-ferro com o primeiro-ministro, José Sócrates, a respeito do MIT, levou mesmo Mariano Gago, de acordo com informações recolhidas pelo PortugalDiário a manifestar a intenção de deixar o Governo.

Quando na quarta-feira, durante um seminário organizado pela revista «The Economist», o antigo responsável pelo Plano Tecnológico, José Tavares, abordou o primeiro-ministro acusando-o de ter o projecto do MIT há meses na gaveta, acrescentando que aquele estava a ser travado por um ministro, José Sócrates respondeu, visivelmente incomodado, que é ao Governo que compete tomar decisões nesta matéria.

De acordo com informações recolhidas pelo PortugalDiário, o ministro de que José Tavares falava é Mariano Gago e as razões prendem-se com as suas ligações ao Instituto Superior Técnico (IST) e os esforços que estará a desenvolver para que o projecto conte com a parceria exclusiva do IST, excluindo dele todas as universidades.

Várias fontes ouvidas pelo PortugalDiário assumem que o ministro da Ciência entrou em rota de colisão com José Sócrates por causa do MIT. Enquanto o primeiro-ministro admitia o estabelecimento de parcerias entre a instituição norte-americana e várias universidades portuguesas, Mariano Gago insistia em reservar essa colaboração ao Instituto Superior Técnico.

O antigo presidente da Agência para a Inovação, Borges Gouveia, nomeado pelo Governo de Durão Barroso, não tem dúvidas de que o ex-responsável pelo Plano Tecnológico se referia a Mariano Gago e que os interesses do ministro em desenvolver o projecto em exclusivo com o IST têm uma explicação.

«Mariano Gago, ministro da Ciência e Ensino Superior, Manuel Heitor, secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, e João Sentieiro, presidente da Fundação Ciência e Tecnologia, são o Estado-Maior da Ciência e Tecnologia. O que têm em comum? Todos têm ligações ao Técnico. Só não vê quem não quer», atira o antigo presidente da Agência para a Inovação.

A informação de que Mariano Gago apresentou a demissão, há vários meses, já chegou ao antigo presidente da Agência para a Inovação, ou por via de «boato insistente no meio académico» ou por meios «mais credíveis».

Contactado pelo PortugalDiário, fonte do gabinete de imprensa do ministro da Ciência diz que Mariano Gago «não quer comentar a polémica em torno do MIT» e garante que o governante «não está de saída» do Executivo.

Fonte: Portugal Diário
Aparentemente não é todo o governo, mas apenas um ministro. Se isto for mesmo verdade, acho que a única coisa que Mariano Gago devia fazer é demitir-se. :?

Dracula
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Mensagem por Dracula »

Já devia ter ido é à séculos :evil:

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Corsario-Negro
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Mensagem por Corsario-Negro »

Já ouvi isso também, mas também já ouvi que quem anda a minar é a pessoa que acusa o Ministro de andar a minar... a verdade é esta: alguém anda a minar.

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Pedro
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Mensagem por Pedro »

Sepultado vivo - O Programa MIT-Portugal visto de dentro

O início

Este artigo é um exercício de civismo. Pretende informar os leitores sobre o tão discutido programa MIT-Portugal. O que o leitor decidir fazer com a informação é sua responsabilidade. Uma vez que este artigo não é um romance, vou começar por lhe contar o fim. A controvérsia relativa ao programa MIT-Portugal centra-se num problema profundo que continua a afligir o desenvolvimento económico de Portugal e a determinar que tipo de sociedade queremos ser no futuro: o autoritarismo e o paternalismo existente em certos meios.

Por agora, regressemos ao ano de 1999, momento em que o MIT estabelecia com a Universidade de Cambridge no Reino Unido a sua segunda parceria internacional de grande envergadura (a primeira tinha já sido criada com Singapura), com um orçamento de cerca de 140 milhões de dólares, 70% proveniente do Governo Británico e os restantes 30% originários do sector privado. Para Director Executivo do programa Cambridge-MIT era nomeado o Prof. Vander Sande, o qual tinha assumido um papel crucial no lançamento da Aliança MIT-Singapura. Nessa altura fazia eu o programa de pós-doutoramento no MIT no grupo do Prof. Vander Sande, pelo que assistia em primeira mão à criação do programa Cambridge-MIT. Em 1999, encontrava-se também no MIT o Prof. José Duarte, então doutorando, hoje docente no Instituto Superior Técnico, a trabalhar sobre a orientação do Prof. William Mitchell, reitor da Escola de Arquitectura. Neste contexto surgiram, inicialmente entre nós dois portugueses e logo depois com os Professores Vander Sande e William Mitchell, as primeiras conversas sobre uma possível implementação do Programa MIT-Portugal.

Os brain-stormings preliminares produziram indubitavelmente um projecto ambicioso. Teriamos que convencer o MIT. Teriamos que convencer as universidades, a indústria e o governo português. Teriamos que angariar financimento. Contudo, o impacte na economia portuguesa seria potencialmente extraordinário. Uma oportunidade única. A possibilidade de colocar Portugal no «palco» mundial, alterando a percepção de países terceiros a nosso respeito Mas como? Que tipo de projecto deveria ser este MIT-Portugal?

O programa MIT-Portugal que germinou em 1999 no MIT, e amadureceu no âmbito da Unidade de Coordenação do Plano Tecnológico em 2005, tinha como paradigma lançar a terceira grande parceria internacional do MIT, através da criação de projectos de investigação e desenvolvimento (I&D) e o registo de patentes, a ser desenvolvidos por equipas interdisciplinares compostas por investigadores portugueses, empresas portuguesas e investigadores do MIT. O programa pretendia ainda transferir a tecnologia resultante dos projectos de I&D para as empresas portuguesas existentes, dar origem à formação de novas empresas de base tecnológica e lançar no mercado global produtos de alta tecnologia. Para atingir este objectivo, a parceria Portugal-MIT iria 1) promover projectos de I&D em áreas temáticas estratégicas para Portugal (por exemplo, Energia, Oceanos, Biotecnologia, Telecomunicações, Nanotecnologia), tendo as empresas portuguesas como motor, 2) proporcionar formação profissional e ensino universitário de excelência a estudantes e colaboradores das empresas portuguesas, através de aulas por vídeo conferência a partir do MIT e 3) facilitar o intercâmbio entre Portugal e o MIT de investigadores, professores e colaboradores de empresas portuguesas.

O contexto mundial

Para entender a visão do programa MIT-Portugal importa perceber que neste período de globalização o crescimento económico é baseado em tecnologia, inovação e produtos de maior valor acrescentado. Em Portugal, os ganhos em produtividade prometem ser excelentes para as empresas capazes de absorver novas tecnologias. Pelo contrário, para as empresas que tencionam apostar num modelo de trabalho intensivo e mão-de-obra barata o resultado final só poderá ser a falência. Veja bem! Na China e na Índia, o salário médio é cerca de 100 euros/mês. Em Portugal é aproximadamente 800 euros/mês. Na China a população activa é cerca de 700 milhões, na Índia cerca de 375 milhões. Em Portugal cerca de 5 milhões. Para mais, nos países de Leste da União Europeia (EU), a população activa possui na sua maioria habilitações literárias superiores à dos trabalhadores portugueses e é remunerada a níveis consideravelmente mais baixos.

Neste horizonte, que hipótese tem Portugal de competir no mercado global? Quais as consequências a médio e longo prazo? Primeiro, a grande parte da população activa sem formação especializada vai encontrar graves problemas de emprego. Para inverter esta tendência, os trabalhadores portugueses terão que obter mais habilitações, produzir novas ideias, ser extremamente adaptáveis. Segundo, as empresas terão que investir fortemente em I&D, formar alianças com universidades e outras empresas, criar produtos e processos de alta tecnologia.

Nos EUA, no Japão e em muitos países da União europeia (UE), as empresas competitivas possuem os seus laboratórios de I&D e/ou estabelecem relações fortes com as universidades. Em Portugal, o cenário é bastante distinto. As empresas não têm dimensão nem recursos para estabelecerem os seus próprios laboratórios de I&D. As colaborações universidade-empresa existem em grau restricto. Este facto espelha-se bem no número diminuto de pós-graduados a exercer funções na indústria portuguesa (apenas 1% do total). O problema não se resolve, portanto, com mais emprego, mas com emprego que é criativo e promete criar valor acrescentado.

Neste contexto, surge uma pergunta pertinente: Porquê o MIT? Em primeiro lugar, o MIT é uma instituição famosa pelas suas descobertas científicas e tecnológicas (detentor de 61 prémios Nobel), o que possibilita atrair alguns dos melhores alunos e investigadores do Mundo para as universidades e empresas portuguesas. Em segundo lugar, o MIT é a universidade americana com mais experiência e sucesso na criação de empresas de base tecnológica. Ao longo dos anos, 4000 empresas de base tecnológica que empregam actualmente mais de 1 milhão de pessoas e geram cerca de 232 mil milhões de dólares em vendas anuais foram criadas a partir do MIT.

Mas qual o interesse do MIT em Portugal? Vejamos, porque ele existe! O MIT considera Portugal um canal preferencial relativamente à UE, ao contrário da Alemanha ou a França que são considerados competidores pelos EUA. Adicionalmente, Portugal possui laços estreitos com o Brasil e com a África, o que permite estender a rede de contactos. Finalmente, a economia portuguesa é forte em sectores e indústrias tradicionais (cortiça, vidro, têxteis, moldes, vinho, madeira, calçado) que devido às matérias-primas, à tecnologia utilizada, e à qualidade dos seus produtos se tornam interessantes no mercado global, se apetrechadas com tecnologias de ponta.

O Plano Tecnológico

Com estas premissas em mente, o programa MIT-Portugal, iniciado há 6 anos, ganhou finalmente consistência no âmbito da Unidade de Coordenação do Plano Tecnológico, sob a orientação do Prof. José Tavares e com o engajamento do Ministério da Economia e do Primeiro Ministro. Neste sentido, efectuamos reuniões com cerca de 30 empresas portuguesas e multinacionais, com as universidades portuguesas, fundações, centros tecnológicos, associações industriais, instituições europeias e americanas. Para nossa satisfação, o programa MIT-Portugal gerou um grande entusiamo. As empresas viam uma alternativa para se lançarem nos mercados de alta tecnologia e terem acesso aos investigadores e aos laboratórios de I&D das universidades portuguesas e o do MIT. Inclusivé, muitas das empresas contactadas mostraram-se disponíveis para contribuir com níveis de financimento anuais entre 50 mil a 250 mil euros/ano. Uma multinacional chegou mesmo a propôr uma contribuição de 15 milhões de euros. Paralelamente, as universidades viam a possibilidade de colaborar com as equipas do MIT e das empresas portuguesas, resolvendo problemas de interesse para a economia nacional.

Contudo, em finais de 2005, depois das reuniões com as instituições portuguesas, depois de se mobilizarem as bases e a administração do MIT, depois de se trocar correspondência oficial entre o MIT e o Governo Português, depois da votação final favorável do Conselho do MIT; enfim, depois de 7 meses de negociações, o programa MIT-Portugal sofre um desvio repentino, alterando substancialmente o seu carácter. A questão que se coloca é: porquê?

O inesperado

Podem-se apontar duas razões principais. A primeira tem a ver com uma questão de autoridade e autoria. A segunda está associada a uma questão de risco. Ambas as razões ligadas intimamente a uma postura que continua a ofuscar o crescimento económico de Portugal. Esta postura é a repercussão 1) da experiência do período da ditadura, 2) da falta de contacto com o conceito de «modernidade» que se desenvolveu no Mundo Ocidental durante a revolução industrial, e 3) dos efeitos de um sistema paternalista. A ditadura inibiu a iniciativa, obrigou os cidadãos a confiar na autoridade, silenciou a discussão pública. A falta de conexão com o conceito de modernidade, onde o individualismo passou a sobrepor-se às estruturas hierárquias, retirou auto-confiança e responsabilidade aos cidadãos. Por sua vez, o sistema paternalista promoveu estruturas de liderança baseadas em hierarquias priveligiadas e exclusivas, as quais suspeitam frequentemente de ideias inovadoras, de pensadores e empreendedores jovens, com medo de perder estatuto.
No programa MIT-Portugal, esta postura autoritária e paternalista esteve sempre no cerne da controvérsia gerada, sepultando um projecto que poderia ter ramificações extraordinárias para Portugal. Concretamente, como se manifesta esta postura num programa como o MIT-Portugal?

Em primeiro lugar, a postura autoritária e paternalista não reconhece qualquer autoria que não seja sua. Por conseguinte, não é de estranhar que nas negociações correntes com o MIT os quatro elementos que conceberam e desenvolveram o programa MIT-Portugal deixaram de estar presentes. Esta postura é particularmente forte no caso do programa MIT-Portugal devido às dimensões do projecto (65 milhões de euros para 5 anos), e à visibilidade que estabeleceria em Portugal e além-fonteiras.

Em segundo lugar, a postura autoritária e paternalista é incapaz de partilhar o crédito pelo trabalho realizado em parceria. Pelo contrário, assume uma posição antagónica desde que não se sinta autor e/ou em controle. Em caso de sucesso, monopoliza os «louros». Perante uma situação de insucesso afasta-se. Enfim, uma postura extremamente perniciosa na dinâmica de inovação e globalização. A inovação é intrinsicamente um processo de co-autoria. Exige o envolvimento e a dedicação na vida nacional de cidadãos empreendedores, activos, responsáveis. Jovens ou séniores, mulheres ou homens, estes cidadãos têm que se sentir parte do progresso produzido. De contrário afastam-se dos problemas nacionais. Estabelece-se um sentimento de «falta de missão».

Em terceiro lugar, a falta de auto-confiança, a sobrevalorização dos erros relativamente aos sucessos e a dificuldade em assumir responsabilidade, aspectos resultantes da postura autoritária e paternalista, leva a que haja uma aversão geral ao risco. Neste sentido, há uma repulsão pelas grandes ideias, pelos grandes projectos, nomeadamente quando o resultado final é difícil de prever. As pequenas ideias, os pequenos projectos são portanto o tamanho ideal. Daí a alteração do projecto inicial MIT-Portugal, o qual envolvia as escolas de engenharia, de ciência, de arquitectura e de gestão do MIT; as universidades portuguesas, os laboratórios de Estado, os laboratórios associados e muitas empresas portuguesas; para um programa que envolve agora apenas a divisão de engenharia de sistemas do MIT e um pequeno grupo de instituições portuguesas. A diferença é simplesmente abismal.

À procura de nós

O projecto MIT-Portugal começou por ser um grande projecto. Recentemente passou a ser um projecto pequeno e de reduzido impacto. Infelizmente, mais do que nunca, Portugal precisa de grandes projectos, projectos ambiciosos. Projectos capazes de envolver os cidadãos e os diversos sectores da sociedade. Um fenómeno sintomático de um país em vias de crise em quando se fala sobretudo sobre o que o país foi no passado. Nao quero dizer com isto que se perca a nossa identidade. De forma alguma. Contudo, quando as memórias excedem os sonhos, é porque a sociedade não acredita em si, não acredita no futuro. Se excluírmos a passagem da ditadura à democracia, Portugal já nao arrisca há cerca de 500 anos. No caso do MIT-Portugal voltou a não fazê-lo, apesar de ter como parceiro a melhor escola do mundo de engenharia e de tecnologia.

Que Portugal e os portugueses têm inegável potencial e valor, não restam dúvidas. No entanto, queremos continuar a sustentar esta postura autoritária, paternalista, obsoleta, vigente no programa MIT-Portugal, ou queremos seguir em frente e ser o que potencialmente podemos ser? O futuro o dirá. Mas uma coisa é certa: se não formos nós portugueses a fazê-lo, ninguém o fará.

Fonte: Visão
Eis o comentário do que se passou neste programa, vindo de quem ajudou a lançar a ideia original. É por situações destas que tenho a ideia de que não precisamos que o governo nos ajude para evoluírmos, basta que não atrapalhe.

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knight
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Mensagem por knight »

Que ridículo... Completamente submissos nas questões militares dos últimos tempos, mas em coisas desta importância é que estes cromos batem o pé... Assim não saimos da cepa torta. Haja paciencia... :roll:

SilentNoise
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Mensagem por SilentNoise »

Já ouvi isto de imensas bocas, e mais uma vez neste texto: a ditadura deixou feridas profundas, não só na sociedade como também em quem nos governa. O medo de querer inovar demasiado depressa para a própria evolução da sociedade portuguesa, ou até quem sabe, contra a evolução daqueles que fazem parte do grupo restrito dos "protegidos" de quem nos governa, irá levar-nos cada vez mais para o fundo.
O autor desse artigo focou exactamente a minha maneira de encarar a evolução, tanto tecnológica, como social da nossa população, que ainda se identifica demasiado com o lema de António Salazar "Orgulhosamente sós", contentando-se apenas com "migalhas" quando ganhar o "bolo inteiro" não é um facto garantido.
Mete-me pena termos a possibilidade de ser um dos países mais avançados do mundo (em todos os aspectos, vistas as boas relações que nos ligam aos países mais influentes), enquanto andamos a debatermo-nos com a mão de obra não qualificada de países mais pobres que o nosso.

Quanto ao projecto MIT-Portugal, não restam dúvidas que há alguém no nosso burgo que se opõe a repartir créditos com instituições estrangeiras de renome. Acredito que seja quase um insulto para uma instituição como o IST, comer apenas uma "fatia do bolo" de possíveis investigações a par do MIT.

Meus amigos: "Orgulhosamente sós."