O rasganço é a última aventura praxística e académica de um estudante. Numa cidade em que a tradição não morre, ainda se cumpre o ritual de rasgar o traje no final da licenciatura.
O estudante chega ao Largo da Porta Férrea, trajado e embrulhado na capa. Quando os colegas o vêem, aproximam-se e começam a rasgar-lhes as vestes com unhas e dentes. No final, não resta quase nada. O recém-licenciado curva-se, tenta esconder o corpo nu. Os colegas, que se riem, roubaram-lhe a capa. Por isso, o “doutor” corre, quase como veio ao mundo, para conseguir alcançar o que sobrou do rasganço. Depois de algumas voltas pelo largo, lá agarra a capa para se cobrir, perante o olhar divertido dos amigos e da família. No final, e para que a tradição se cumpra, sai um F.R.A. Segue-se, depois do jantar, uma noite de festa bem regada.
Para alguns esta é a mais violenta praxe da Academia. Para outros, é a mais simbólica e a mais ansiada pelos estudantes da Universidade de Coimbra (UC). Seja como for, o rasganço é um ritual de libertação.
“A destruição das vestes académicas significará o corte com a situação anterior, da parte de uma pessoas que vai viver num mundo diferente. Apenas fica a capa, servindo ao mesmo tempo para cobrir o corpo nu e como recordação do tempos de mocidade”, pode ler-se no livro “A Academia de Coimbra”, da autoria de Alberto Sousa Lamy. A pasta é o outro elemento que sobrevive à praxe. Afinal, quando termina o curso, o estudante não precisa do traje que o acompanhou ao longo da vida académica. A capa e a pasta são os únicos elementos que se guardam e que ficam com o “doutor” para o resto da vida.
Há, no entanto, alguns estudantes que preferem não cumprir a tradição por questões afectivas - preferem guardar a capa e batina para sempre - ou porque não se revêem na praxe. Contudo, o dux veteranorum da UC garante que “continua a haver uma grande percentagem de estudantes que não sai de Coimbra sem fazer o rasganço”.
João Luís Jesus conta ainda que, antigamente, os rasganços eram feitos “mal o estudante terminasse o curso”. Hoje, “tornou-se numa festa de amigos e de família –, que geralmente decorre aos sábados ou sexta-feiras, altura em que podem estar todos presentes – e que faz com que todos se juntem em volta de um momento de grande importância para o estudante”, acrescentou.
Acto de coragem
Helena Maia, licenciada em Direito, “rasgou–se” no passado dia 29 de Setembro. “Sempre quis fazer rasganço desde que comecei a perceber o espírito da praxe e a participar. Considero-o o ponto parágrafo da vida académica, portanto a decisão não foi difícil... até ao momento de rasgar”. No momento em que as vestes começam a desaparecer, “toma–se, de facto, consciência de que acabou uma das melhores fases da nossa vida e vêm as recordações de anos muito especiais, em que tudo passou muito depressa. Ser estudante de Coimbra é um grande privilégio”. Fernando Rodrigues foi seu colega de faculdade. É inspector tributário aposentado e tem 55 anos. Não fez o seu rasganço porque acredita que aquele acto académico “não se coadunaria” com a sua idade. No entanto, considera fundamental que a tradição se mantenha. “Pessoalmente não deixo de aplaudir os jovens que se submetem a este ritual. Para além de ser interessante, é também um acto de coragem”.
Fernando Rodrigues preferiu guardar o seu traje académico. Mas explica porquê: “Comecei a trabalhar com sete anos, descalço, atrás das ovelhas, na minha aldeia, em Memória [Leiria]. Depois fui para a guerra em Angola. Estudei e esta faceta fez parte do final da minha vida. Por isso gostava de guardar o meu traje para o levar comigo quando morrer...”
As vestes académicas simbolizam, para muitos, os melhores tempos vividos porque guardam recordações e segredos da vida estudantil. “Porque o verdadeiro significado do traje é “ter a capa em nós como uma alma”. E é isso o que torna Coimbra indefinível.
O RASGANÇO
Na Faculdade de Direito após o anúncio do último dia de aulas, os alunos do 1.º ano faziam espera aos do 5.º ano, que perseguiam com a finalidade de lhes rasgar as batinas e as capas. Era a “farraparia”.
A praxe de rasgar o traje académico após a licenciatura deverá ter surgido com a “Farraparia”. A “Farraparia”, que durou até cerca de 1910, era feita na Faculdade de Direito após o “Ponto”, anúncio do último dia de aulas - em que os alunos do 1.º ano faziam espera aos do 5.º ano, que perseguiam com a finalidade de lhes rasgar as batinas e as capas. Era a alegria da destruição, a farraparia.” (in “A Academia de Coimbra” de Alberto Sousa Lamy).
Esta praxe de rasgar o vestuário não era aplicada, como se compreende, às estudantes. De acordo com o “Código da Praxe Académica de Coimbra”, a meio da década de 80 começaram as estudantes a sofrer essa praxe, mas com limitações. Rasgavam o que era poupado aos rapazes: o colarinho, punhos, gravata e meias. A primeira estudante a ser rasgada (em Janeiro de 1987) terá sido Júlia Maria Valente Pereira, de S. Silvestre, Murtosa. A aluna havia terminado a licenciatura em Engenharia Química.
Com ao “rasganço” chega ao fim não só o curso universitário mas também uma vivência da juventude apenas possível em Coimbra.
Com a crise de 1969, a praxe do rasganço desaparecerá. Porém, nestes últimos anos, já tem havido rasganços totais na universidade.
Ao final dos estudos está geralmente associado o “rasganço” de toda a indumentária académica, com excepção da capa e da pasta académica, que assim acompanham o resto da vida do antigo estudante. Hoje em dia, são raros os estudantes que fazem, de facto, o “rasganço”, devido ao peso sentimental atribuído ao traje, no final do curso. Dá-se, então, um “rasganço” simbólico através da “proibição” de se voltar a vestir o traje, usando-se apenas a capa e a pasta académica.
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O rasganço - A última praxe da vida académica
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"You break my record. Now I break you. Like I broke your friend!"
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- bluestrattos
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à 2 anos fui ver uma de um amigo meu! Estava bastante frio nessa noite! Imagino o gajo. Eu estava de barrete e casaco todo equipadinho o gajo andava a correr despido a tentar apanhar a capa como já foi previamente explicado.
Embora respeite quem queira fazer o Rasganço, eu prezo bastante o meu traje académico, além das memórias, a minha mãe comprou-o e tal como hoje, foi caro e não tenho pais ricos, nem ganhei a Lotaria nem fui ao BES, por isso irei manter o meu traje intacto.
Todavia, não deixa de ser mais uma bonita tradição académica!
Embora respeite quem queira fazer o Rasganço, eu prezo bastante o meu traje académico, além das memórias, a minha mãe comprou-o e tal como hoje, foi caro e não tenho pais ricos, nem ganhei a Lotaria nem fui ao BES, por isso irei manter o meu traje intacto.
Todavia, não deixa de ser mais uma bonita tradição académica!
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- {mineirinha}
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Re: O rasganço - A última praxe da vida académica
Chong Li Escreveu:As vestes académicas simbolizam, para muitos, os melhores tempos vividos porque guardam recordações e segredos da vida estudantil. “Porque o verdadeiro significado do traje é “ter a capa em nós como uma alma”. E é isso o que torna Coimbra indefinível.
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sem dúvida genial !
- Pedro
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Eu não o rasguei. Mesmo não voltando a usar o traje, prefiro tê-lo inteiro como recordação. Estão ali 5 anos, ainda é uma parte razoável da nossa vida. Além disso, as mulheres também não rasgam o vestido de noiva e só o usam um dia, por isso nós temos todo o direito a ficar com o traje que usámos durante 5 anos.
cada um pensa como quiser,mas nao vejo a logica de guardar algo do passado. eu quero ter um rasganço em grande,isso sim é para recordar,estudante de coimbra é rasgado no fim,sempre assim foi....uma vida nova começa quando se acaba o curso,as recordaçoes nao vem da roupa,mas dos amigos e esses continuam sempre...
concordo..eu acabei o curso ha cerca de 2 semanas mas para ja nao me vou rasgar porque candidatei-me a outro curso e caso a minha candidatura seja aceite,qd o acabar faço rasganço, porque para mim o rasganço e o final da vida academica e nao do curso...Briooosa Escreveu:cada um pensa como quiser,mas nao vejo a logica de guardar algo do passado. eu quero ter um rasganço em grande,isso sim é para recordar,estudante de coimbra é rasgado no fim,sempre assim foi....uma vida nova começa quando se acaba o curso,as recordaçoes nao vem da roupa,mas dos amigos e esses continuam sempre...
concordo em pleno, o meu já aí vem sniff sniffBriooosa Escreveu:cada um pensa como quiser,mas nao vejo a logica de guardar algo do passado. eu quero ter um rasganço em grande,isso sim é para recordar,estudante de coimbra é rasgado no fim,sempre assim foi....uma vida nova começa quando se acaba o curso,as recordaçoes nao vem da roupa,mas dos amigos e esses continuam sempre...
Queria que fosse logo à saída do exame se o professor tivesse a gentileza do o corrigir logo ( acho que tem ) , o problema é que a maior parte dos meus colegas assim não ia estar... acho que lá vai ter que ser na porta férrea. Aaaaaiii coimbra :_(