«Magalhães», um computador pouco português
Apresentado com pompa e circunstância por José Sócrates, trata-se de um produto totalmente idealizado pela Intel.
Foi anunciado como o primeiro computador português, mas não é bem assim. O Magalhães é originalmente o Classmate PC, produto concebido pela Intel no sector dos NetBooks, que surge em reacção ao OLPC XO-1, que foi idealizado por Nicholas Negroponte.
Será, no fundo, um computador montado em Portugal, mais propriamente pela empresa JP Sá Couto, em Matosinhos. Tirando o nome, o logótipo e a capa exterior, tudo o resto é idêntico ao produto que a Intel tem estado a vender em várias partes do mundo desde 2006. Aliás, esta é já a segunda versão do produto.
Fonte: IOL Diário
E, tal como tinha mencionado antes... a notícia não devia ser "totalmente produzido em Portugal", mas sim "totalmente montado em Portugal". Tratou-se mais uma vez de tentativa de aproveitamento do governo de uma notícia que afinal nem é muito especial (já há outros portáteis a ser montados em Portugal, por outras empresas). É certo que vai criar emprego, mas não vai criar mais-valias tecnológicas: a Intel vai produzir tudo, nós só montamos as peças na caixa e damos o nome. Uma simples loja de informática pode fazer o mesmo comprando um barebone portátil e as peças em separado. Isto acaba é por ser um negócio brutal para a Intel, que despeja 500 mil portáteis num único cliente (que, ainda por cima, vai montá-los). Fico com pena de a única coisa que há de Português neste portátil ser a mão que usa a chave-de-fendas... nem uma pontinha de tecnologia desenvolvida cá.
Acrescente-se ainda uma ironia interessante, que tem sido omitida das notícias... este portátil é concorrente directo do programa "One Laptop Per Child", cujo objectivo é informatizar o terceiro mundo, não sendo a tal "versão para crianças" de um portátil que eu mencionei na minha primeira resposta. Ou seja, vamos adquirir portáteis cujo objectivo é informatizar o terceiro mundo... quer dizer, já estivemos mais longe de lá chegar...