Não podia deixar passar este texto n' A Bola da grande Leonor Pinhão. A verdade doi:
1- Provavelmente ninguém reparou, mas Pôncio Monteiro acaba de lançar a sua candidatura à presidência do FC Porto, atacando, de forma directa, António Oliveira, seu eventual concorrente nessa disputa eleitoral que ainda vem longe, é certo, mas já está bem animada. Tudo porque António Oliveira, para já presidente do Penafiel, não tem escondido a vontade de receber o Benfica, daqui a duas jornadas, num estádio grande, com uma lotação que permita um encaixe financeiro que valha por uma época inteira. Pôncio Monteiro reagiu e ontem, nas páginas de A BOLA, ameaçava não perdoar esta traiçãozinha se alguma vez Oliveira se atrever a sonhar ser presidente do FC Porto. «Certamente que os adeptos não se esquecerão e nem ficarão muito satisfeitos!», disse, alargando o seu descontentamento às bases. Na semana passada, não perdi o ensejo de vincar a minha opinião sobre a mudança de palco, da Amoreira para Faro, do jogo com o Estoril: o único prejudicado seria sempre o Benfica, em caso de vitória, de empate ou de derrota. Em relação ao jogo com o Penafiel, a minha forma de ver a questão é exactamente a mesma. O Benfica tem muito a perder e nada a ganhar ao aceitar fazer o favor de permitir que clubes mais pequenos, com naturais dificuldades de tesouraria, encham os cofres à sua custa. Penso, no entanto, que o que mais irrita, desorienta e faz perder a cabeça aos adversários directos do Benfica na luta pelo título não é a mudança de palcos que, só por si, não garante os três pontos. O pior, o que mais dói é a entronização de uma realidade poderosa: é o Benfica quem alimenta o futebol português. É, foi e será. E quando são os clubes ditos pequenos a reclamar a imponência dessa realidade, a pedir ao Benfica que no curto espaço de 90 minutos salve um ano inteiro de aflições, de salários, de compromissos, é natural que os outros clubes, ditos grandes, sintam que, afinal, não são tão grandes assim em comparação com o maior de todos. Ao aceitar jogar em Faro com o Estoril ou onde quer que seja com o Penafiel, o Benfica não está a ser interesseiro. Está a ser magnânimo. E, para os fundamentalistas como eu, está, infelizmente, a perder argumentos morais, sempre tão convenientes de utilizar quando é necessário. Por exemplo: a deslocação de palco mais escandalosa do futebol português aconteceu em 1983, quando a FPF marcou uma final da Taça de Portugal entre o Benfica e o FC Porto para o Estádio das Antas. É verdade que o Benfica ganhou o jogo, limpinho, com um golo de Carlos Manuel e jamais esqueceremos as imagens da entrega da Taça, com a equipa do Benfica a fugir, garbosamente, de um inusitado arremesso de objectos. Como benfiquista lamento profundamente que o Estoril-Benfica e, eventualmente, o Penafiel-Benfica, possam sequer ser comparados em termos de escândalo com essa final de 1983. Foi, precisamente, isto que perdemos.
2- Por todas as razões e mais uma foi muito bom o Benfica ter ganho ao Estoril no domingo à noite. É fácil adivinhar a amplitude de «todas as razões» no que abrange da luta pelo título à própria eventualidade da conquista do título. Mas é sobre a «mais uma» dessas razões que vos quero falar. À partida, trata-se de um pormenor insignificante, um rebuscamento, um enfeite. Mas a verdade é que quando Mantorras fez a bola entrar na baliza com aquele remate instintivo, mortífero e quase genial, senti-me profundamente feliz pelo êxito futebolístico e, ao mesmo tempo, moral e superiormente autorizada a saudar o sucesso da equipa de voleibol do Benfica que se sagrou campeã nacional da modalidade no último fim-de-semana. Compreendam, por favor, o meu dilema. Se a equipa de futebol do Benfica não tivesse ganho ao Estoril que ridículo seria falar de... voleibol, esse desporto que se joga com as mãos e em que não pode haver contacto físico entre os adversários. Pareceria que me estava aproveitar de um sucesso menor, de uma futilidade, para fazer esquecer um desaire de proporções astronómicas. Quando o resultado, em Faro, era de 1-0 favorável à equipa dona da casa/visitante, para além da angústia que a perda dos três pontos implicava, dei por mim a lamentar em surdina o facto de não poder falar de voleibol nesta quinta-feira, sob pena de ser acusada de estar, artificiosamente, a desviar as atenções. É uma questão de feitio. Assim, posso garantir que se o Benfica não ganhar esta SuperLiga não vou, na quinta-feira seguinte à da consagração do novo campeão, seja ele qual for, encher esta página com divagações sobre pesca submarina, culinária da Beira Alta, polémicas da vida académica, memórias de infância, ténis, astrologia ou, mesmo, homenagens a padres progressistas. Sendo assim, obrigada Luisão, obrigada Mantorras, por me permitirem dar os parabéns aos técnicos e aos jogadores do voleibol benfiquista e, também, a Fernando Tavares, vice-presidente das modalidades, pela conquista do título nacional. Foi lindo! Aliás, esta foi uma semana grande para o desporto dito amador. O FC Porto, por exemplo, galardoou o seu treinador de basquetebol com o Dragão de Ouro para o técnico do ano. Também foi lindo! Qual Liga dos Campeões, qual carapuça, o basquetebol é que está a dar.
3- Indiciado por um conjunto de delitos mais do que suficientes para fazer corar as pedras da calçada, o major Valentim Loureiro regressou à presidência da Liga de Clubes graças à prescrição de um prazo técnico-jurídico. De um modo geral, a comunicação social exultou com o facto. Não por o major ser um homem inocente até ao dia em que for proferida a sentença. Antes pelo facto de o major ter «uma voz credível» e que muita falta tem feito ao futebol português. Salvaguardando as distâncias entre as naturezas dos crimes imputados, o circo mediático montado em torno do regresso de Valentim Loureiro à sede da organização, as manifestações de apoio, as expressões emocionados dos amigos e dos funcionários, fez lembrar, de algum modo, o estardalhaço que se verificou na Assembleia da República quando Paulo Pedroso regressou ao seu posto de trabalho depois de uma temporada em que se viu privado das mais básicas liberdades. O próprio major não se tem escusado de lamentar que o seu regresso à actividade se tenha ficado a dever à prescrição de um prazo e não à sua total e definitiva inocentação. Fica-lhe bem este desabafo. Não se passasse tudo isto em Portugal e o major poderia brilhar ainda mais como dirigente desportivo, como presidente do Metro do Porto e como cidadão, tomando a única atitude que, nos países civilizados, a opinião pública e a comunicação social exigem sem contemplações em casos semelhantes: a auto-suspensão de todos os cargos públicos e privados até ao apuramento da verdade. Mas, caramba, em Portugal, isso é exigir muito. Venha de lá, então, essa voz credível para lutar contra os bandidos que andam por aí à solta!
Opinião de Leonor Pinhão
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