Badaró não resistiua um cancro
O humorista Badaró morreu ontem, aos 75 anos, vítima de cancro. As cerimónias fúnebres realizam-se hoje, na Igreja de Paço de Arcos, de onde o corpo seguirá para a Universidade Nova de Lisboa.
Há cerca de dois meses que o artista lutava contra um cancro no estômago. Estava internado no Instituto Português de Oncologia de Lisboa desde o passado dia 18. Badaró também sofria de Alzheimer, tendo vindo a perder significativamente a memória.
Mas, apesar da doença, continuava bem disposto e até costumava brincar com os momentos mais trágicos da sua vida. "Tenho tantos problemas de saúde que já lhes perdi a conta: sofri um enfarte, um AVC, tive um linfoma e agora descobri que tenho mais um cancro", afirmou, em entrevista ao jornal "24 Horas", no passado mês de Maio.
A missa de corpo presente é celebrada às 10.30 horas, na igreja de Paço de Arcos. Depois, o corpo do humorista segue para a Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, cumprindo-se assim o desejo de Badaró, que queria que o seu corpo fosse entregue à ciência, informou o seu filho, Ruben Badaró..
Em declarações à agência Lusa, Raul Solnado lembrou "o grande sucesso na revista" alcançado por Badaró quando chegou a Portugal, no final da década de 50, como elemento da companhia brasileira Fogo no Pandeiro. " Trabalhou muito e muito bem para crianças e foi muito popular. Fez 'one man shows' que ficaram na nossa memória", disse, ainda, recordando-o como "um bom amigo, um homem de bem, muito inteligente e culto".
Alina Vaz, que trabalhou com Badaró por mais de um ano na peça "Empresta-me o teu apartamento", salientou a amizade que começou quando o humorista foi escolhido para substituir na peça o protagonista Henrique Santana. "Começou uma amizade grande. Era muito esperto e culto; pouca gente será dessa opinião, mas para mim sempre foi um senhor", disse, à agência Lusa.
Apesar de nos últimos tempos se terem distanciado, a actriz recorda os encontros para tomar café, as longas conversas e também os espectáculos em que Badaró era arrasado pelos colegas. "Foi sempre muito afastado pela classe teatral vigente na época e nunca percebi por que acontecia. Qualquer coisa que fizesse era para dizer mal e um espectáculo em que eu também entrei foi pateado pelos colegas", lembrou, sublinhando que a maior parte da classe teatral não o aceitava.
Alina Vaz destaca ainda a grande sensibilidade e boa disposição do humorista e aponta a decisão de doar o seu corpo à ciência como exemplo da sua "grande humanidade".
Manílio Haidar Badaró chegou a Portugal em 1957. Fixou residência e acabou por se naturalizar português, tendo trabalhado em teatro, rádio e televisão. Famoso por personagens como o "Chinezinho Limpopó" e ainda pela célebre expressão "Ó Abreu, dá cá o meu", Badaró estava a preparar uma festa para comemorar os 50 anos de carreira. "Quero fazer um espectáculo que reúna todos os meus amigos, no Parque Mayer ou no Maria Vitória", afirmou, um dia.
Estava afastado dos palcos há anos, devido aos problemas de saúde.
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