Estado da Enfermagem

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Corsario-Negro
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Estado da Enfermagem

Mensagem por Corsario-Negro »

(Entrada escrita por uma enfermeira recém-licenciada convidada: )

Finalmente licenciei-me!

Em Enfermagem como sempre quis e sonhei, a felicidade estampa-se no meu rosto e o orgulho cresce cada vez que me chamam Enfermeira.

Porém esta felicidade cedo se desmoronou quando finalmente acordei do sonho e vi a realidade. Sempre tive noção que as coisas para os recém-licenciados como eu não seriam fáceis… O que eu não sabia é que seriam tão difíceis.

Ora a saga começou em Outubro, dia 1 lá fui eu inscrever-me na magnífica Ordem dos Enfermeiros, preencher papéis, pagar e pronto agora é só esperar pela cédula profissional.

Concursos a sair e eu a responder a todos os que apareciam, a esperança crescia cada vez mais. Para além de responder a concursos “públicos” (vim a perceber depois que de públicos têm muito pouco) comecei também a enviar candidaturas espontâneas para variadíssimas instituições privadas de saúde e a todos os anúncios de clínicas privadas que iam aparecendo.

Como o tempo passava e nenhuma novidade havia e como não sou muito de me acomodar, decidi começar a contactar os respectivos Recursos Humanos dos hospitais que tinha concorrido. As respostas além de rebuscadas eram pouco esperançosas, pois nunca ninguém sabia de nada ou quando sabiam era para me dizer que o júri ainda nem sequer tinha pegado nos Currículos. "Bem… como é tanta gente a concorrer é normal demorar, coitadinhos dos júris" - isto foi o que eu na minha inocência pensei. Algum tempo depois, vem-se sempre a saber que começou gente a trabalhar nos ditos hospitais sem a análise dos CV’s estar feita, mas isso agora davam mais outros quinhentos.

Entretanto, saíram listas de classificação de alguns hospitais, de rir é claro pois os recém-licenciados são atirados para o fundo da lista sem qualquer hipótese, visto que este ano os candidatos rondam os 2000 e num hospital normal se contratarem 100 pessoas num ano já é bastante, por isso dá para ver a proporção das coisas. Importa também dizer que existem nos nossos hospitais serviços nos quais enfermeiros doutros serviços fazem o seu horário e depois vão dar uma mãozinha a um serviço que tem horas negativas, quando a obrigação do hospital era contratar mais profissionais para suprimir essas necessidades, mas os senhores administradores devem ter coisas mais interessantes em que gastar os impostos dos contribuintes do que fornecer melhores cuidados de saúde. A título de exemplo, o Hospital de São João no Porto paga horas extraordinárias que davam para contratar 80 enfermeiros e ainda fica a dever outras. Porque razão não contratam? Ainda não percebi.

Bem, voltando ao assunto, hoje é dia 29 de Novembro e após mais de 100 candidaturas espontâneas, resposta a anúncios e a concursos, ainda ninguém me contactou para exercer enfermagem.

Mas vejamos, mesmo que me chamem, se for num hospital público, terei um contrato a termo resolutivo certo de 6 meses com possibilidade de renovação (ou não) a ganhar a módica quantia de 991,31€ de acordo com o índice 114 (para quem não sabe, em enfermagem a carreira é horizontal e vertical, neste momento na vertical não há progressão), mais uns pozinhos mágicos como o subsídio de alimentação e suplementos de turno ( no caso dos turnos nocturnos).

Agora pergunto, isto é um salário justo para alguém que cuida de vidas? Para quem passa horas em pé, para quem pega em doentes (porque comprar um “transfer” para o serviço fica caro), para quem está sujeito a riscos elevados relativamente à sua saúde por lidar com pessoas enfermas, para quem tem a responsabilidade de salvar vidas? Por favor…

Contratos de 6 meses? Rio-me bastante quando apelam ao aumento da natalidade, pois o país está a ficar envelhecido, mas depois apresentam abonos de família na ordem dos 20 euros e contratos de 6 meses que nem para adquirir ou alugar (com segurança financeira) uma casa dá. Das dar o rendimento mínimo garantido a quem não precisa é que é bom, ajudar e dar condições a quem quer trabalhar e produzir para o país é que é uma grande utopia.

Não percebo como querem que um país ande para a frente quando se ajuda muitos que não querem trabalhar e se ignora aqueles que o querem fazer, algo de muito errado se passa.

Dizem que o que custa não é partir, mas sim a decisão de partir. Eu já tomei a minha. Parece que lá por fora precisam de enfermeiros, pagam bem e dão melhores condições.
http://socrates.com.pt/2008/11/29/final ... enciei-me/



Na Finlândia, julgo que no ano passado, os enfermeiros despediram-se todos em bloco por situações semelhantes... Mas por lá não é cada um por si, há um verdadeiro espírito de sociedade e sacríficio em prol de algo melhor.
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Sergey Rjabtzev
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Mensagem por Sergey Rjabtzev »

A suiça,reino unido,australia e irlanda estão a obsorver grande parte dos novos licenciados em enfermagem europeus, oferecendo um ordenado equivalente ao que um professoer EM FINAL DE CARREIRA ganha cá...muitos dos jovens portugueses já agarraram a oportunidade.sim porque cá gostam muito de gozar e de rebaixar os enfermeiros :lol: até tem a sua piada...até ao dia em que entram no hospital e percebem que aquilo não é bem como no dr.house...parece que quem está com os doentes a maior parte do tempo sao enfermeiros...parece que eles afinal até sabem umas coisas de saude...parece que afinal eles não andam so la a fazer camas...um choque :shock: ...mas também que raio estou eu a fazer ao comparar a mentalidade dos portugueses com a de um inglês,helvético ou australiano? :lol:
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Ruizito
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Mensagem por Ruizito »

... ai, ai, se fosse só na enfermagem que a mentalidade portuguesa é diferente...

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Corsario-Negro
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Mensagem por Corsario-Negro »

http://socrates.com.pt/2008/12/08/ao-qu ... os-na-enf/
Parece que o Hospital Joaquim Urbano anda a propor a enfermeiros irem trabalhar para lá. Seria um passo em frente sabendo nós que há falta de enfermeiros em alguns hospitais (para não dizer muitos). O curioso é que andam a fazê-lo tendo por base o voluntariado, isto é, pagando nada por serviços de enfermagem, jogando assim com o desespero de algumas pessoas em adquirir experiência.

O que me surpreende (ou não) é que há pessoa que aceitam pagar para trabalhar (sim, porque as deslocações não são pagas), apenas para ganhar experiência. Quando será que algumas pessoas neste país ganham uma coluna vertebral e deixam de prestar vassalagem, rebaixar-se perante exploração gratuita e defendem os seus direitos?

A forma como alguns hospitais e unidades de saúde se tentam aproveitar das más políticas seguidas nesta área para assim poupar uns trocos é desprezível. Se querem que alguém faça um serviço, paguem por ele.

Quando é que veremos milhares de enfermeiros a unirem-se como vemos lá fora? Quando é que veremos as pessoas a negarem-se a ser exploradas ou ver outros serem explorados e sacrificam um pouco o dia de hoje para que o amanhã seja melhor e mais justo?

Realmente, cada vez mais, o futuro está lá fora.
Realmente, só há disto porque há pessoas que se dão a tal. :roll:
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Leia
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Mensagem por Leia »

Eu nem acredito naquilo que li.... :/

keine Engel
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Mensagem por keine Engel »

Espero bem q os enfermeiros se mexam para defenderem os seus direitos... a situação das instituições não abrirem vagas e admitirem voluntários é absolutamente decadente. Infelizmente, na área em que estou (Psicologia), a situação já está assim há anos e anos... espero bem que os enfermeiros se consigam impor para evitar cair na situação em que se encontram os psicólogos.

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gunky
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Mensagem por gunky »

Ora os enfermeiros continuo a dizer a mesma coisa.... Se eles querem trabalho fiquem por Portugal, se querem emprego vao pro reino unido e afins.... Bolas esta gente nao sabe o que e a lei da oferta procura?

Sergey Rjabtzev
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Mensagem por Sergey Rjabtzev »

lol oferta procura...tens noçao que neste momento há uma carencia de perto de 3500 enfermeiros no sistema de saude portugues e que por causa disso cada vez que vais a um hospital a probabilidade de não seres tratado com os "minimos" é alta? :lol: tenham cuidado com as generalizações...
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gunky
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Mensagem por gunky »

Sergey Rjabtzev Escreveu:lol oferta procura...tens noçao que neste momento há uma carencia de perto de 3500 enfermeiros no sistema de saude portugues e que por causa disso cada vez que vais a um hospital a probabilidade de não seres tratado com os "minimos" é alta? :lol: tenham cuidado com as generalizações...
La por haver uma carencia nao quer dizer que haja procura ou tas a espera, como conheço nalgumas pessoas, que com a mudança de governo as coisas mudem de figura. No fim acaba por nao haver procura de enfermeiros pelo estado e a oferta e grande

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banjix
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Mensagem por banjix »

gunky Escreveu:La por haver uma carencia nao quer dizer que haja procura ou tas a espera, como conheço nalgumas pessoas, que com a mudança de governo as coisas mudem de figura. No fim acaba por nao haver procura de enfermeiros pelo estado e a oferta e grande
gunky, o problema é que, enquanto houver pessoas que se sujeitam a tudo e mais alguma coisa (nomeadamente ao voluntariado por tempo indeterminado e sem qualquer vínculo), a situação não vai sair da cepa torta! Enquanto os hospitais tiverem pessoal que faz um serviço mínimo a custo zero, que necessidade há em contratar pessoal? Eu acho que os próprios enfermeiros é que estão a alimentar este problema ao admitirem trabalhar sem serem remunerados, apenas com a esperança de que isso lhes traga algumas vantagens. O problema é que se não se unirem em massa, continuará a haver situações destas. Eu não estou contra o voluntariado, antes pelo contrário, mas há que ter atenção aos limites (sim, porque tudo tem um limite). Neste momento, há carências registadas, só que os orçamentos falam mais alto do que tudo o resto, inclusive a qualidade dos cuidados prestados.
Juízo eu tenho, o problema é utilizá-lo poucas vezes.

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gunky
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Mensagem por gunky »

Isso ja e outro assunto. Precariedade tens ha muito tempo no sector privado e so ha uns anos pra ca e que tem vindo a instalar-se a serio tb na funçao publica. O efeito da precariedade e esse mesmo...Muita gente para poucas vagas. Depois tens 3 tipos de pessoas. As que se incomodam com isto a serio mas ja nao podem fazer grande coisa porque estao cansados e velhos. As que se queixam e dizem que ta mal mas n saiem de casa para fazer manifestaçoes e aceitam o sistema e por fim as que nao gostam do sistema e vao trabalhar pro estrangeiro.

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Ruizito
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Mensagem por Ruizito »

Isto é tudo muito bonito, mas cada um sabe de si e não se pode criticar quem trabalha à borla pois só essa pessoa sabe porque o faz.
Eu quando terminei o curso (que nada tem a ver com enfermagem), trabalhei à borla 6 meses, e a experiência que adquiri foi-me muito útil para ganhar curriculo para então poder começar a trabalhar de forma remunerada. Se tivesse ficado em casa de braços cruzados, nada teria aprendido e seria muito mais difícil depois entrar no mercado de trabalho.
Claro que as instituíções se aproveitam do trabalho voluntário, mas também pode haver vantagens para quem o faz.

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banjix
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Mensagem por banjix »

Ruizito Escreveu:Claro que as instituíções se aproveitam do trabalho voluntário, mas também pode haver vantagens para quem o faz.
Ninguém disse o contrário, o problema é quando isso começa a afectar seriamente o emprego e, principalmente, a qualidade dos serviços prestados.
Juízo eu tenho, o problema é utilizá-lo poucas vezes.

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Corsario-Negro
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Mensagem por Corsario-Negro »

Quando quem trabalha de borla vai substituir trabalho remunerado, temos todo o direito em criticar e atenção que não estamos a falar de estágios curriculares. Os estágios curriculares servem exactamente para dar às pessoas experiência profissional. Mesmo aí muitas empresas pagam porque compensa sempre. A partir daí o voluntariado só se nos regimes que já existem.

Ruizito se tu foste trabalhar ocupando um cargo que a empresa precisava e de borla, então agiste mal para com a sociedade. Se a empresa queria ter alguém para fazer aquele trabalho então contrata uma pessoa e paga-lhe. Já viste o que era se agora todos os recém-licenciados aceitassem trabalhar de borla? Olha eu montava já uma empresa, metia um gestor competente lá a gerir o pessoal e não contratava mais ninguém, era tudo voluntários!

Acredita que muitos não ficam em casa com os braços cruzados. Enviam CVs para todo o lado que podem por forma a arranjar emprego. É que nem todos querem ficar a viver à custa dos pais a trabalhar de borla. O natural após acabar o curso é iniciar a vida profissional remunerada (salário mais baixo que um trabalhador experiente proventura). Não é trabalhar de borla mais uns meses.

Compenetrem-se de uma coisa: O TRABALHO PAGA-SE. Deixam de querer retorno pelo trabalho, então estão a piorar as coisas e a incutir vícios nada bons a empresas. Estão também a mexer com equilibrio que existe na sociedade e a dificultar a emancipação dos jovens.
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Sergey Rjabtzev
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Mensagem por Sergey Rjabtzev »

gunky Escreveu:
Sergey Rjabtzev Escreveu:lol oferta procura...tens noçao que neste momento há uma carencia de perto de 3500 enfermeiros no sistema de saude portugues e que por causa disso cada vez que vais a um hospital a probabilidade de não seres tratado com os "minimos" é alta? :lol: tenham cuidado com as generalizações...
La por haver uma carencia nao quer dizer que haja procura ou tas a espera, como conheço nalgumas pessoas, que com a mudança de governo as coisas mudem de figura. No fim acaba por nao haver procura de enfermeiros pelo estado e a oferta e grande

não...mas estou à espera de algo igualmente impossivel, que é crescer um cerebro a muita gente :lol:



(eu queria uma reconstrução cerebral...só me resta 1/6 de cerebro :( )
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