Demolições abrem caminho ao Metro
A Metro Mondego iniciou ontem as demolições na Baixa de Coimbra com vista à criação da via que permitirá a passagem futura do eléctrico rápido no traçado urbano. «Um momento histórico», considerou José Mariz. Os trabalhos estão divididos em três fases e serão acompanhados permanentemente por arqueólogos que, aliás, interromperam as demolições minutos depois de terem começado
Em poucos segundos, a pá da retro-escavadora deita abaixo um pedaço da parede de um edifício amarelo, junto ao Bota-Abaixo, perante os olhares atentos de dezenas de populares atraídos ao local pela movimentação de máquinas. Com este acto, a Metro Mondego deu ontem início ao processo de «desconstrução» dos edifícios da Baixa de Coimbra, que permitirá, no futuro, a passagem do eléctrico rápido entre a Avenida Fernão de Magalhães e a Rua da Sofia.
«Um momento histórico. Um dia de grande alegria», confessou José Mariz, e também Carlos Encarnação, satisfeitos por, finalmente, «estarmos no ponto de partida para o lançamento do Metropolitano Ligeiro do Mondego em Coimbra», depois de muitos anos de espera por um acto concreto ligado a este projecto.
Ao todo, e incluindo as demolições entre a Avenida Ameminium e a Fernão de Magalhães, serão 42 os edifícios a demolir, num trabalho dividido em três fases que, se tudo correr como previsto, terminará no final deste ano. O desejo é, adiantou aos jornalistas o presidente do Conselho de Administração da Metro Mondego, que o corredor do eléctrico rápido esteja desimpedido quando estiver adjudicada a empreitada já lançada a concurso público internacional.
Quanto à primeira fase, iniciada ontem, incluirá os prédios entre o “Bota Abaixo” e a Rua Direita (15 prédios) e deverá estar concluída lá para o mês de Junho. Isto porque, conforme explicou José Mariz, se trata de um trabalho «cirúrgico, cuidadoso» por estar em causa uma zona sensível da cidade, com prédios de construção débil e com uma componente histórica que é preciso preservar.
Recorde-se que, apesar de grande parte dos edifícios a deitar abaixo se encontrarem devolutos, o processo iniciado ontem implicará, nomeadamente, a demolição de estabelecimentos comerciais bem conhecidos da cidade, como é o caso das pastelarias “San Remo” e “Palmeira”, dos restaurantes “Silva”, “Primavera”, “Barca Serrana” e “A Nova Democrática”, ou ainda da farmácia “Luciano e Matos”, a óptica “Azevedo” e a loja de brinquedos “Joaninha”.
Um trabalho que se prevê demorado e que implicará a presença permanentemente de arqueólogos do IPPAR que ordenarão a interrupção das demolições sempre que surja algum motivo de interesse. Esses elementos serão registados, fotografados e catalogados e só depois desse trabalho é que as demolições poderão continuar.
Demolições param no primeiro dia
Foi precisamente isso que aconteceu ontem, logo no primeiro dia de demolições. Minutos depois da queda do primeiro pedaço de parede, os arqueólogos mandaram interromper os trabalhos para estudarem alguns elementos (dois orifícios) que surgiram no muro interior do edifício.
«Esta é a grande diferença entre a demolição pura e simples e a desconstrução. A segunda implica um trabalho mais cuidado e minucioso», explicou aos jornalistas Guilherme Carreira, elemento do Conselho de Administração da Metro Mondego.
José Mariz confirmou que a área a demolir é «substancialmente maior» do que a inicialmente prevista e que esta alteração vem cumprir «as recomendações do LNEC [Laboratório Nacional de Engenharia Civil]», responsável pelo estudo exaustivo feito ao estado da construção na Baixa de Coimbra. «A intervenção não podia ser de tal maneira que não garantisse a segurança dos prédios à volta», explicou Carlos Encarnação, justificando a inclusão de mais edifícios do que os que estavam inicialmente previstos no programa das demolições.
O presidente da Câmara de Coimbra explicou ainda que este trabalho será o primeiro passo para a revitalização da Baixa de Coimbra (ver caixilho), para além de fazer parte de um projecto que «trará um novo sistema de mobilidade para Coimbra, que esta precisa como de pão para a boca».
José Mariz, que preferiu não revelar os valores que estão por trás deste trabalho de desconstrução - «talvez lá para Abril ou Maio tenha ideias mais claras», afirmou – avançou que, dentro de duas semanas, a Metro Mondego irá convocar a Comunicação Social «para revelar os estudos em curso para a expansão da rede de Metropolitano Ligeiro do Mondego».
Convém não esquecer que todo este processo teve início sem estar resolvido o “diferendo” entre a Metro Mondego e a Câmara Municipal da Lousã em relação ao traçado suburbano do Metro. Aquele município recusa-se a aceitar a exclusão do troço Lousã-Serpins do projecto tendo anunciado na passada semana a entrega em tribunal de uma providencia cautelar para suspender o concurso público internacional do Metropolitano Ligeiro do Mondego.
in Diário de Coimbra