Numa altura em que nos aproximamos do que poderá ser o pior período desta crise, começa-se também a pensar em como será o mundo "pós-COVID19". Este é um daqueles eventos que certamente irá mudar o nosso estilo de vida, com o efeito exponenciado por ser algo com um impacto mundial.
Vai haver muitas indústrias com impactos negativos, mas parece-me que o turismo será das que irá sofrer mais. Mesmo quando tudo isto passar, não me parece que as pessoas voltem a viajar como agora. O medo de outra situação destas, mais os relatos das situações de quem ficou preso em cruzeiros ou noutros países, provavelmente fará com que as pessoas comecem a hesitar mais em viajar para países distantes.
Por outro lado, a quebra no turismo pode vir a ter um efeito positivo para os habitantes locais. Podemos estar perante o fim (ou uma quebra acentuada) do alojamento local, que tem contribuído fortemente para o aumento gigantesco nos preços das rendas. Com o eventual regresso de muitas destas casas ao mercado de arrendamento de longa duração, podemos ter rendas a voltar a valores em linha com o que a carteira dos Portugueses pode pagar.
Penso que podemos também assistir a um crescimento acentuado das compras on-line, incluindo para as compras do dia-a-dia (algo que ainda não era comum).
Esta crise também mostrou que muitos trabalhos que "não há qualquer possibilidade de ser feito remotamente" afinal podem ser feitos remotamente. E mostrou que muitas empresas podem fazer essa troca de um momento para o outro, sem anos de transição (embora haja impactos dessa pressa). Este evento pode ter sido o empurrão que faltava para a massificação do teletrabalho.
Finalmente, os impactos climáticos. Esta situação aconteceu numa fase crítica da luta contra as mudanças climáticas. E, para o melhor ou pior, mostrou que o que era impossível - pararmos tudo - afinal pode ser feito. E tem mostrado os impactos positivos dessa paragem, com melhorias significativas da poluição em vários locais. Será que, após esta situação, continuaremos com medidas que venham a permitir não perdermos estas melhorias? Desde logo, a massificação do teletrabalho poderá dar uma forte contribuição, diminuindo as deslocações necessárias.
Parece-me certo que não iremos "regressar" para o mesmo mundo em que vivemos até Fevereiro... para que mundo iremos regressar?
Pós-COVID19
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Re: Pós-COVID19
Na fase imediata, o desemprego, a falência de muitas (muitíssimas) empresas, o aumento de impostos e os escombros do que restar do SNS, vão ter repercussões pesadas na vida dos portugueses. Mas a história mostra-nos que após grandes calamidades, a estrutura económica recupera, nichos de negócio e novas oportunidades preenchem os que se extinguem. Virá a vacina, tratamentos e a esperada imunidade de grupo. O consumo (excessivo) voltará, eventualmente em formato diferente. As pessoas voltarão a viajar, não tenho dúvidas sobre isso - passada a crise, os cidadãos querem esquecer, retomarão os hábitos anteriores e outros novos vão surgir - os ciclos da história repetem-se, acredito nisso. Esta crise sem fuga nem auxílio externo, é uma brutal lição que a natureza nos deu, numa época em que julgávamos ter tantas coisas controladas, vivendo sob o signo da max. produção e eficácia, nesse aspeto, espero que haja uma reflexão global sobre o humanismo e valores éticos. Tanto tempo gasto a discutir a eutanásia, olhar para o lado na questão dos refugiados e famintos do mundo e quando a Itália pede ajuda para a tragédia em curso, a UE deixa claro que é cada um por si, uma vergonha, acho eu!
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Re: Pós-COVID19
Quase um ano depois... ainda não estamos no pós-pandemia. O teletrabalho parece estar para ficar, embora ainda haja muitas empresas a pensar em voltar a modelos totalmente presenciais - no meu caso, no entanto, não me vejo a regressar a essa situação.
Tenho notado algumas ligeiras quebras nos valores das rendas que aparecem nos anúncios, mas ainda longe do impacto que eu esperava. Vê-se também alguns AirBnB "convertidos" para arrendamento de longa duração, mas pensei que ia haver um impacto muito maior nesta área.
Nas escolas, a sensação é mista. Eu tenho estado a frequentar um curso do Centro da Línguas da UC onde as trocas entre remoto e regime misto não tiveram grande impacto. No entanto, tenho a ideia que houve vários cursos onde a transição não foi propriamente fácil, e noto que ainda há pouca vontade de ajustar coisas para a nova realidade (por exemplo, lembro-me de uma discussão sobre aumentar o número de câmaras a vigiar os alunos nos exames, em vez de alterar métodos de avaliação).
No geral, fica a ideia que o mundo vai mudar, mas não tanto como se esperava há um ano atrás.
Tenho notado algumas ligeiras quebras nos valores das rendas que aparecem nos anúncios, mas ainda longe do impacto que eu esperava. Vê-se também alguns AirBnB "convertidos" para arrendamento de longa duração, mas pensei que ia haver um impacto muito maior nesta área.
Nas escolas, a sensação é mista. Eu tenho estado a frequentar um curso do Centro da Línguas da UC onde as trocas entre remoto e regime misto não tiveram grande impacto. No entanto, tenho a ideia que houve vários cursos onde a transição não foi propriamente fácil, e noto que ainda há pouca vontade de ajustar coisas para a nova realidade (por exemplo, lembro-me de uma discussão sobre aumentar o número de câmaras a vigiar os alunos nos exames, em vez de alterar métodos de avaliação).
No geral, fica a ideia que o mundo vai mudar, mas não tanto como se esperava há um ano atrás.