Falar de arte, de educação pela arte e para a arte

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costa brites
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Falar de arte, de educação pela arte e para a arte

Mensagem por costa brites »

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Além de outros lugares na net que estão à disposição dos visitantes deste forum, e de que falarei novamente, com inclusão de imagens, será oportuno no dia de hoje vir apresentar-vos o blog "Flávio, artista e amigo meu" que é visitável no seguinte endereço:

http://flavioamigomeu.blogspot.com/
O protagonista principal do mesmo faz anos hoje, e o blog "foi lá para cima" nesta mesma data.

Mas não é um blog para lhe dar os parabéns. Do que se trata é de falar de arte com muita calma, de uma experiência pedagógica muito particular, e de uma convivência muito bem disposta entre artistas activos no respectivo atelier!...

Eu sei que estamos em Agosto e agora não está cá "ninguém". Por isso mesmo faço votos que esta mensagem aqui fique até à "rentrée", com um abraço para todos.

Faço notar, como deferência para este forum, que esta imagem está melhor aqui que no blog propriamente dito!...
convido todos os visitantes do Forum "Coimbra" a visitarem o meu site pessoal http://www.costa-brites.com/, e vários blogs a começar por este:
http://flavioamigomeu.blogspot.com/

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costa brites
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Mensagem por costa brites »

costa brites Escreveu:

Uma artista de elevado nível que Coimbra faz por ignorar

À “minha Túlia”, a homenagem simples tão só de uma criança

Carta à minha estimada amiga Túlia Saldanha,

Tenho muita pena de não ter podido estar presente no último encontro que tinha marcado consigo.
Realmente estava mal informado sobre o seu estado de saúde quando vi o anúncio de que iria fazer parte dum painel de especialistas para discutir, no contexto das iniciativas da ARCO em Madrid, as actividades pedagógicas ligadas ao ensino e divulgação das artes plásticas, há cerca de uma dúzia e meia de anos atrás.
Já não pudemos encontrar-nos e tive de conformar-me com a sua ausência devido a motivo de força maior.
A notícia do seu falecimento consternou, como é tão abundantemente sabido, uma boa mão-cheia de amigos desta velha cidade e tantos outros admiradores que, fora dela, tiveram o privilégio de consigo trabalhar e de consigo viver o gosto e a paixão da arte.

Muitos são os eleitos mas poucos os escolhidos

À engenharia das preferências colectivas e das homenagens públicas se pode aplicar a mesma frase que se aplica a muitas outras situações: diz-me como e quanto homenageias e eu dir-te-ei quem és.
Lembro-me disto, Túlia, porque sou reincidente em homenageá-la muito singelamente, por palavras breves mas calorosas de sincera admiração.
Por mim não fica a sociedade em falta consigo em salientar o valor seguro do seu labor metódico ao serviço de toda a cultura e de todas as artes, mas, acima de tudo, ao serviço da arte sem academias, nem medalhas, nem poses estudadas, da sua preciosa dedicação pela sensibilidade das pessoas em si mesmas.
Confesso-lhe que tenho tentado uma e outra vez convencer todas as pessoas com quem converso de que há uma enorme dívida pública para com a lúcida atenção que dedicou às artes, às suas técnicas, ao seu exercício oficinal e, principalmente, à sensibilizada percepção dos seus valores mais profundos.

A Túlia pertencia à rara multidão dos eleitos, mas não granjeou a condição de escolhida, por culpa de modéstia própria e do funcionamento fatal da sociedade em que viveu.

Venho por isso contar-lhe a pequena palavra de uma criança, em substituição de uma grande homenagem institucional, tentando disfarçar o pecado de ocultação que têm cometido todos os seus contemporâneos e sobretudo os que foram testemunhas, utentes e beneficiários directos, individuais ou colectivos, dessa mesma obra e dessa mesma atenção.

A homenagem sem preço do afecto de um menino

Além de artista e dinamizadora cultural exerceu a minha amiga a profissão de educadora, actividade da qual foi afastada ao final da sua carreira, por um processo burocraticamente lamentável e verdadeiramente kafkiano que talvez pouca gente conheça.
Anos antes, porém, fora educadora num infantário do qual era utente um filho meu, criança que, como tantas, lutava com certas dificuldades de enquadramento devido à timidez e à incapacidade de reagir perante o meio já agressivo da comunidade infantil.
A problemática que viveu foi um tanto perturbadora, sucedendo-se as conjecturas improdutivas de outras educadoras e até da directora do estabelecimento em causa.
A produção de opiniões em nada resultou até que tivemos a sorte de vir para o infantário Túlia Saldanha, que estabeleceu com o menino um relacionamento sem problemas, que conseguiu integrá-lo no colectivo e que fez desabrochar nele a capacidade límpida duma natureza somente tocada de alguma raridade, sem patologias negativas.
A amizade entre menino e educadora, centrada principalmente no trabalho de expressão plástica que desenvolvia, foi tão caloroso que, desde então, Túlia Saldanha perdeu o seu nome artístico para ser bem conhecida entre nós da forma como passou a designá-la esse menino: “a minha Túlia”.

Fique pois sabendo, além disso, que aqui em casa, falando-se de artistas, não viramos todos o rosto para o mesmo lado donde sopra o vento das amenas conveniências da unanimidade.
Artistas, apreciamos todos, e a todos dedicamos a atenção que a obra justifica e merece.
Mas não queremos ver na paisagem apenas o lado onde bate o sol das preferências sem questionamentos raros.

E a si, cara amiga, para além do conhecimento que temos da grande obra por si desenvolvida e da sua total indiferença pelas homenagens deste mundo, creia que ficou “a minha Túlia” para todo o sempre, no imaginário de uma pequena família sem importância que rememora o seu trabalho inteligente como um bálsamo, e a sua perspicácia humana como um acto produtor de futuro em harmonia e felicidade.


Este artigo foi publicado no Diário de Coimbra no dia 03 de Dezembro de 2006, no espaço "Temas de Domingo", pg. 20.
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