Eleições na Grécia: “Nunca votei tão zangada”
A enorme escola de Grava, um dos maiores centros eleitorais de Atenas, está num corrupio. Muitos gregos estão aqui para escolher um entre os 32 partidos que hoje disputam as legislativas antecipadas, com dois partidos do centro a defender medidas de austeridade e outro a opor-se ao memorando com a troika.
O voto é obrigatório na Grécia mas não há penalizações para quem não vá votar. A maioria dos eleitores com quem falamos, no entanto, não está aqui por obrigação. Está aqui para dizer alguma coisa. E muitos não vêem a questão como simplesmente a favor ou contra o memorando.
“Em quem é que votei?”, repete Angel, que está aqui com a mulher e os quatro filhos pequenos. “Posso dizer em quem não votei”, começa, pegando no molho de papéis com os nomes dos partidos e os candidatos que cada eleitor recebe. “Não votei nestes”, diz, mostrando o papel do Nova Democracia (centro-direita), o partido que se prevê que vença as eleições, embora sem maioria, com uns magros 22 a 24%. “E também não votei nestes”, continua, ao chegar ao papel do PASOK (centro-esquerda), entre 18 e 20%.
“Não votei em nenhum deles porque acho que não podem fazer nada pela Grécia”, explica, referindo-se aos dois partidos que tem alternado no poder desde 1974. “Votei em algo diferente”, diz, enquanto chega ao papel do Gregos Independentes, formado por um antigo deputado do Nova Democracia (Panos Kammenos). É um partido que acusa os políticos que assinaram o memorando de serem “traidores” e que compete com o Syriza, aliança de esquerda radical, e com o Partido Comunista pelo terceiro lugar na votação. “Não é que espere que façam grande coisa”, diz o engenheiro mecânico, que “tal como toda a gente”, teme pelo seu emprego com todos estes cortes e austeridade. “Mas temos mesmo de mudar.”
”O partido mais fiável"
Já Katerina, uma geóloga de 30 anos (muitas pessoas preferem não dar o apelido quando discutem a escolha de voto) escolheu o Nova Democracia, de Antonis Samaras. “Acredito que é o partido mais fiável, o único que tem experiência para pôr o país fora da crise”, diz. Katerina trabalha na universidade num projecto financiado pela União Europeia, por isso não teme pelo seu futuro imediato, embora “trabalhe mais horas por menos dinheiro”. “Mas tenho família, e amigos. Toda a gente está a ser afectada.”
Curiosamente, não conseguimos falar com um eleitor do PASOK para além dos que estão a fazer campanha, entregando panfletos à porta da escola. Mas nem o homem de meia-idade nem a mulher que estão a distribuir os panfletos, nem nenhum dos ocasionais apoiantes que passam depois de os cumprimentar, está com grande vontade de falar.
A jovem Ana Paragiou não se importa nada de dizer que votou no Syriza. “Não vais encontrar nenhum jovem que tenha votado no Nova Democracia ou no PASOK”, garante a estudante de Matemática, de 24 anos. Questionada se não teme que um voto no Syriza possa levar a Grécia a sair do euro (o partido defende que se questione o memorando e que eventualmente se recuse o pagamento de parte da dívida), ela diz que não é esta a questão mais importante. “Os políticos são o nosso principal problema – estes políticos, esta corrupção. Não podemos continuar a votar neles.”
”A Grécia não oferece nada”
Nem toda a gente quer dizer em quem votou. “Preferia manter isso para mim”, diz Katerina Vangeli, que está sentada a fumar um cigarro na paragem de autocarro, de costas muito direitas e um ar estranhamente composto no seu fato calça e casaco azul claro. “Foi muito difícil decidir. Foi a primeira vez que estive tão indecisa e a primeira que estive tão zangada.” Katerina é professora de línguas mas diz que está prestes a perder o emprego quando a sua escola se juntar a outra. “Tenho 51 anos, não sei o que vou fazer. Mas o problema não sou só eu. São muitas pessoas como eu, professores, na mesma situação. E mais: dizem que há ainda jovens com emprego? Eu não acredito. O que eu vejo é jovens com 2,80 euros no bolso para o bilhete de metro, a irem procurar emprego.”
“Este sítio chamado Grécia”, diz, visivelmente emocionada, “não oferece nada”. “Nada é decidido pelas capacidades das pessoas, tudo é decidido pelos partidos”, queixa-se. “E infelizmente, não acho que nada vá mudar depois destas eleições”.”Fora com eles!”
Fonte: Público
Hoje é dia de eleições na França e Grécia, ambas com forte potencial para afectar o futuro da União Europeia.Afluência às urnas em França maior do que na primeira volta
As reportagens que chegam de Paris insistem no mesmo aparente paradoxo: filas de eleitores determinados a votar numa de duas escolhas e nenhuma os entusiasma. A França elege o seu Presidente e o provável vencedor é o socialista François Hollande.
Até ao meio dia local (11h em Lisboa) tinham votado já 30,7% dos eleitores registados – 46 milhões – apesar do frio e da chuva que cai em grande parte do país. Na primeira volta, de 22 de Abril, tinham votado até à mesma hora 28,3%.
“Votei no menos mau. Não tenho esperança nesta eleição. Nada vai mudar”, comentou à AFP Aurélie Briandet, de 33 anos, sem precisar qual dos boletins tinha deixado na urna.
Nicolas Sarkozy, que daqui a umas horas se poderá tornar no 11º líder europeu a perder o cargo desde o início da crise económica, votou ao lado da sua mulher, Carla Bruni, numa escola de um bairro de classe alta da capital francesa. “Vamos vencer”, gritaram os apoiantes.
Ainda na sexta-feira, Hollande, a quem todas sondagens antecipam a vitória, disse aos jornalistas estar preocupado com a diminuição da margem que o separa de Sarkozy.
O último inquérito dá ao socialista 52% das intenções de voto contra 48% para o combativo Presidente, que sempre recusou dar-se por vencido – na primeira volta, Hollande obteve 28,63% dos votos, Sarkozy 27,18%.
Mas enquanto o socialista recebeu o apoio de um dos candidatos à presidência, o centrista François Bayrou, (que explicou que a linha demasiado à direita de Sarkozy não seria os seus “valores"), a líder da extrema-direita Marine Le Pen indicou que ia votar em branco – ainda que Sarkozy tenha feito os possíveis por atrair o seu eleitorado, radicalizando como nunca o seu discurso sobre imigração e segurança.
Hollande, que hoje poderá tornar-se no primeiro Presidente socialista francês em quase duas décadas, também já votou. Em Tulle (Centro), onde foi presidente da câmara durante onze anos, apertou muitas mãos e distribui muitos beijos. “Este vai ser um dia longo, não sei se vai ser um belo dia, isso serão os franceses a decidir.”
As urnas nas principais cidades encerram às 20h00 (19h em Lisboa) e por essa altura serão conhecidas as estimativas dos institutos de sondagens. O vencedor será o sétimo Presidente da V República e durante cinco anos vai liderar uma das principais potências mundiais.
Fonte: Público
Em França, a opção por Hollande poderá implicar o fim da parceria Sarkozy/Merkel, que tem tomado praticamente todas as decisões da União Europeia nos últimos anos. A forte possibilidade de passar a haver alguém que decida dizer "não" à Merkel de vez em quando é algo que tem animado bastante estas eleições, embora haja sempre a hipótese de vir a ser apenas mais do mesmo.
Na Grécia, a situação é algo diferente. O descrédito total da classe política faz com que a maioria das pessoas esteja a pensar optar por alternativas fora do leque habitual de escolhas, pelo que os resultados podem vir a surpreender.