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Enviado: terça-feira, 09 dezembro 2008 15:54
por banjix
Chong Li Escreveu:Fdx! Eu nunca tirei um 19 e demorei 6 anos a chegar à Univ.! Será que sou burro??
Burro talvez não sejas, disso não tenho a certeza. Mas tenho a certeza de uma coisa: Nasceste cedo demais e, portanto, não tiveste acesso a estas facilidades que a malta agora tem.

Enviado: quarta-feira, 10 dezembro 2008 17:12
por Ruizito
Efectivamente vivemos numa era em que só contam os números. O que interessa é que o nível de aproveitamento suba, o abandono escolar desça, a alfabetização aumente, e por aí fora. Muita estatística e pouca substância. Resultado, todos os alunos sabem perquisar na internet, mas poucos sabem fazer uma conta de dividir ou escrever uma frase com sentido.
Daqui a uns anos teremos uma taxa de alfabetização de 100%, mas uma iliteracia igualmente de 100%. Tem sido esta a politica da educação desde há cerca de 20 anos (sim, a culpa não é só desta Ministra, é de todos os ministros desde há longos anos).
Mas já agora também é verdade que os professores não são totalmente alheios a este caos. Tivessem eles tanto empenho em contestar este tipo de "facilitismos", como têm em contestar tudo o que afecte as suas carreiras, talvez as coisas estivessem diferentes.

Enviado: quarta-feira, 10 dezembro 2008 17:16
por banjix
Ruizito Escreveu:Mas já agora também é verdade que os professores não são totalmente alheios a este caos. Tivessem eles tanto empenho em contestar este tipo de "facilitismos", como têm em contestar tudo o que afecte as suas carreiras, talvez as coisas estivessem diferentes.
Concordo com tudo o que disseste, mas destaco este último parágrafo. Efectivamente, nunca se viu uma luta por um ensino mais exigente como se vê no que toca a isto da avaliação de desempenho! Todas as reformas no ensino foram acatadas, mais ou menos, de bom grado, excepto esta que mexe com a carreira dos professores.

Enviado: quinta-feira, 11 dezembro 2008 16:41
por Chong Li
Mas nesse caso quem deveria contestar, não seriam só os professores mas os pais e o resto da sociedade!

Isto que se está a passar é uma autêntica fraude.

Enviado: quinta-feira, 11 dezembro 2008 17:01
por Pedro
A principal contestação que tenho visto quanto a este facilitismo tem sido dos professores. Na questão dos exames facilitados, quem é que denunciou a situação e protestou? Enquanto o Ministério estava ocupado a auto-elogiar-se pela melhoria nas estatísticas (como se "subir" à custa de baixar a exigência tivesse algum significado), foram os professores quem mais contestaram a ridícula dificuldade dos exames. Agora com esta questão das notas servirem de elemento da avaliação dos professores, mais uma vez também foram os professores a contestar (e seria bem mais fácil simplesmente dar boas notas a todos, sem qualquer critério, mas alguém tem que manter a exigência e qualidade no ensino já que o Ministério demitiu-se dessa responsabilidade).

Estas duas que mencionei são apenas as mais conhecidas. Relembro a ideia de eliminar as reprovações até ao 12º ano (também contestada pelos professores), assim como as pressões para dar boas notas a que os professores são constantemente sujeitos.

Querem arruinar o nosso sistema educativo e estão a tentar fazê-lo com o apoio da população, oferecendo portáteis, boas notas e agora até cursos superiores. Cabe à população compreender os efeitos catastróficos que isso irá trazer ao nosso futuro e tentar lutar para que tal não ocorra. Infelizmente, muitos vêem a escola apenas como um sítio onde podem despejar os miúdos durante o dia, sem se interessar minimamente pelo que lá acontece (felizmente, também há outros que se preocupam).

Enviado: sábado, 13 dezembro 2008 13:24
por banjix
Pedro Escreveu:Infelizmente, muitos vêem a escola apenas como um sítio onde podem despejar os miúdos durante o dia, sem se interessar minimamente pelo que lá acontece (felizmente, também há outros que se preocupam).
O problema principal é mesmo este, Pedro. A maior parte dos pais deixou a educação dos seus filhos ao cargo das escolas ou outras entidades de ensino. É evidente (para mim) que isso não chega e é por isso que os valores éticos, a educação... está tão má como está.

É incrível a falta de exigência que os alunos têm de si mesmo, a falta de vontade de fazer melhor. Para eles, o mínimo dos mínimos é mais do que suficiente. Porquê? Por tudo aquilo que o Pedro já disse. Neste momento, o ensino vive mais das aparências do que de outra coisa qualquer. Quaisquer que sejam os resultados obtidos, eles não reflectem o real estado das coisas. E isso vai sair bem caro ao país daqui a alguns anos.

Enviado: domingo, 14 dezembro 2008 4:20
por Sergey Rjabtzev
banjix Escreveu:
Pedro Escreveu:Infelizmente, muitos vêem a escola apenas como um sítio onde podem despejar os miúdos durante o dia, sem se interessar minimamente pelo que lá acontece (felizmente, também há outros que se preocupam).
O problema principal é mesmo este, Pedro. A maior parte dos pais deixou a educação dos seus filhos ao cargo das escolas ou outras entidades de ensino. É evidente (para mim) que isso não chega e é por isso que os valores éticos, a educação... está tão má como está.

É incrível a falta de exigência que os alunos têm de si mesmo, a falta de vontade de fazer melhor. Para eles, o mínimo dos mínimos é mais do que suficiente. Porquê? Por tudo aquilo que o Pedro já disse. Neste momento, o ensino vive mais das aparências do que de outra coisa qualquer. Quaisquer que sejam os resultados obtidos, eles não reflectem o real estado das coisas. E isso vai sair bem caro ao país daqui a alguns anos.
voces estão mais alienados no vosso mundinho do que eu...so pode...a serio este post fez.me entrar em serious business,que eu odeio...acertaram na parte dos pais delegaram as suas competencias para entidades estranhas.agora...falta de exigencia em sim mesmos?a maioria destes alunos a quem os pais "entregam" às escola estão sob pressão para atingir certos niveis...e depois quando nao atingem os pais ficam indignados...descarregam neles e na escola...o que acontece?os alunos,que não sao mais que adolescentes,tal como eu ainda sou, fazem ainda pior como mecanismo de defesa...não se esqueçam nunca do factor humano e nao acreditem na treta do "se ele conseguiu ele também consegue!" por favor...isso ja esta mais que provado que não é verdade...nem toda a gente tem a estabilidade psicologica necessaria para atingir certos objectivos...precisam de um apoio extra a nivel de aconselhamento e de "guia"...e francamente...não têm!claro que se tivessem tido os pais presentes desde inicio,provavelmente não seria necessario de forma tão drastica...mas a verdade é que nao tiveram,nem as gerações que ai vêm estão a ter, portanto agora é arcar com as consequencias,lidar com o problema e resolvê-lo na fonte.


quanto ao resto do facilitismo e destas medidas de acabar com as reprovações,concordo plenamente...está a minar um sistema ja de si duvidoso e a acentuar o problema.

Enviado: domingo, 14 dezembro 2008 12:55
por Pedro
Neste aspecto, concordo com o banjix e garanto que não estamos "alienados" do mundo. Até te posso dar imensos exemplos práticos das minhas aulas, em que vejo alguns alunos (não todos, felizmente) a ter comportamentos que considero inadequados e que os penalizam na nota (que eu ainda vou mantendo níveis de exigência nas minhas aulas).

Um caso simples costuma acontecer nas aulas de Word, em que eles têm de formatar textos de determinada maneira. O texto geralmente é pequeno (10 linhas), mas têm de ser eles a escrevê-lo. Uma resposta comum que ouço é "10 linhas, stor? Tanto? Isso vai demorar imenso!". Ouço isto em praticamente todas as turmas (que depois têm como resposta "Acham que 10 é muito? Então vocês têm de fazer 15"). Estamos a falar de um texto mínimo, mais pequeno do que as composições que fazíamos na primeira classe. Para além disto, depois há os que tentam dar a volta à questão, com textos copiados da net (que alguns garantem ser deles, até que eu mostro o original) ou escrevendo em tamanho 32 para cima.

Depois há ainda aqueles que estão mais interessados no hi5 que nas aulas. Este ano tive uma aluna que fazia os trabalhos à pressa só para ir ao hi5 (por vezes até a meio do trabalho a apanhava a ir lá). Obviamente, teve notas miseráveis. No teste, mesmo sabendo que tinha de ter boa nota, fez o mesmo... teste à pressa, nota miserável. Na auto-avaliação teve o descaramento (que acho que não há outra palavra) de me pedir um 3, só porque tinha feito todos os trabalhos (apesar de a média nos trabalhos andar pelos 7 pontos em 20 e no teste não ter passado dos 30 e poucos por cento). Obviamente que não o irá ter.

Se isto tudo não é falta de exigência e vontade de apenas atingir os mínimos... é certo que não são todos os alunos, ainda tenho muitos alunos que se esforçam, mas tenho outros que apenas se esforçam o mínimo (ou, por vezes, nem isso). E eu ainda me posso orgulhar de ser um professor que consegue fazer com que maus alunos noutras disciplinas tenham boas notas na minha, então se mantivessem as notas normais... claro que, para ter boas notas comigo, têm de trabalhar. Eu estou disponível para esclarecer todas as dúvidas as vezes que for preciso, seja nas aulas ou fora destas (os alunos têm até o meu messenger e e-mail, mais um fórum de apoio às aulas que criei e ainda um chat directo). Dou todo o apoio necessário para haver sucesso, mas em troca exijo que trabalhem. Os que trabalham, obviamente, têm sucesso. Os que não trabalham, a esmagadora maioria é por preguiça e eu não pactuo com isso (tirando casos muito raros em que há problemas sérios de outra natureza por trás e que, quando eu não consigo ajudar, aponto ao director de turma para que tome as medidas que podemos tomar enquanto professores).

O centro destes problemas está no falhado sistema de educação que temos e em alguns pais. Há pouca coisa que os professores possam fazer para penalizar um aluno mau e as que podemos podem ser desfeitas. Sabias que existe um artigo que permite passar alunos de ano porque tiveram determinado número de reprovações, apesar de ele continuar com aproveitamento negativo? Depois temos miúdos que chegam ao 9º ano a escrever pior do que eu escrevia na primeira classe (quando se dão ao trabalho de escrever). O sistema de educação enveredou num caminho de facilitismo e populismo, em que quer subir o nosso nível educativo de forma artificial. O que eles estão a fazer é simples. Numa analogia, vamos imaginar que, em determinado teste, houve 30% de negativas, sendo que negativas são notas abaixo de 50%. Este governo limita-se a dizer que, afinal, só é negativa se a nota for abaixo de 10% - por artes mágicas, os 30% de alunos com negativa desaparecem das estatísticas. A situação real mudou em alguma coisa? Não.

Depois temos o outro lado, o dos pais que não se preocupam. Sinceramente, eu poucas vezes vejo os pais indignados com os filhos de que falas. Felizmente ainda vão existindo alguns que ainda tentam incutir responsabilidade aos filhos, fazendo-os ver que existem consequências para as suas atitudes negativas, mas são poucos (e, na maioria das vezes, os miúdos não sabem reconhecer que essa imposição de limites é para seu próprio bem - embora o venham a reconhecer uns anos mais tarde). O que eu vejo mais são pais que se indignam com o professor sem motivo para tal. O filho teve negativa? A culpa é do professor, que dá testes difíceis ou que discriminou o filho durante a correcção (esta segunda aconteceu numa das turmas que eu tive, em que a mãe estava tão certa que a professora de Português tinha sido parcial com o filho que a obrigou a mostrar a correcção ponto por ponto... para depois ver que, afinal, o filho nada sabe de Português). O filho portou-se mal e bateu num colega ou andou a destruir material escolar? Ah, mas ele em casa é tão sossegado, é um anjinho, até anda nos escuteiros! Depois, quando o director de turma lhe telefona (que ir à escola por iniciativa própria é mentira), lá descobre que o anjinho afinal andou a mentir-lhe sobre as companhias com que anda na escola, que já tem várias participações, que nunca lhe mostrou os recados enviados para casa e que já tem um processo disciplinar pelas asneiras que fez. Este género de pais contribui imenso para o estado a que chegaram as coisas... são irresponsáveis e demasiado protectores dos filhos, que acabam por ficar completamente mimados e a pensar que o mundo lhes deve tudo. Felizmente que ainda existem pais em condições para contrabalançar isto.

Sinceramente, essa pressão de que falas é quase inexistente hoje em dia e, quando existe, é mal interpretada pelos alunos: na maioria das vezes, são tentativas dos pais de estabelecer correctamente limites para os filhos, para que eles entendam que a própria vida também tem exigências. Ocasionalmente pode surgir algum pai com objectivos irrealistas para os filhos, mas são raros (se bem que, a continuar a este ritmo, qualquer objectivo deixará de ser irrealista). Estes pais são, em muitos casos, aqueles que mais apoiam os filhos e mais interesse demonstram na sua vida escolar (são os únicos a comparecer nas reuniões, por exemplo). Por algum motivo, regra geral são estes os melhores alunos. Depois há os que têm negativa e ainda são recompensados com PS3, leitor de mp3, telemóvel novo, etc... esses só conseguem passar no final do ano devido aos facilitismos existentes (como o tal artigo das reprovações). Se ainda és adolescente, daqui a uns anos vais entender melhor a questão.

Todo este facilitismo e falta de interesse está a prejudicar os que deveriam ser os principais interessados na educação: os alunos. Mesmo os que se esforçam, olham à sua volta e vêem os colegas que nada fazem a também progredirem, mesmo não estudando e sendo mal comportados. Daí ser importante alterar esta situação, para ver se ainda é possível inverter este desastre.

Enviado: domingo, 14 dezembro 2008 21:26
por Sergey Rjabtzev
Mas estamos a falar de mundos diferentes.eu falava do secundario,tu falas do basico.no basico o problema é um verdadeiro monstro,aí concordo completamente contigo...eu estive no meio de tudo isso que relatas aí e muito mais.sim,sei que existe o tal artigo que permite passar os alunos depois de X reprovaçoes porque o vi ser aplicado.no basico o problema é o contrario...não há pressão nenhuma...há pais que têm a mentalidade do "ah e tal depois no secundario ele começa a estudar" e claro dá porcaria porque nem todos têm a capacidade para entrar nesse ritmo de imediato,que mesmo assim não é tão alto quanto isso :roll: .acho que no basico é que realmente existe um facilitismo a todos os niveis...eu devo ter dado o programa de uma disciplina completo para aí 3 vezes quando por lá passei,só como exemplo. agora no secundário é inegavel a pressão que existe sobre os alunos...os proprios professores admitem e alguns têm o desplante de dizer a meio de aulas com um sorriso na cara que não gostavam de estar no nosso lugar naquele momento lol.o que eu me ri.

Enviado: domingo, 14 dezembro 2008 21:29
por Pedro
A "pressão" que existe no secundário devia vir dos próprios alunos. Afinal, é onde se decide a entrada na universidade. Embora esta entrada esteja cada vez mais facilitada (basta ver os vergonhosos exames de matemática do ano passado), é importante que já exista uma cultura de esforço. Caso contrário, chegam à universidade e espalham-se por completo (que é o que vai acontecer a muitos dos alunos desta geração). Se achas que há muita pressão no actual secundário, espera até chegares a um curso onde tens de fazer noitadas a preparar trabalhos práticos e onde tens de gerir 3 ou 4 projectos ao mesmo tempo...

Enviado: domingo, 14 dezembro 2008 21:43
por Sergey Rjabtzev
eu ja estou no curso...a mudança de ritmo foi mesmo -> :lol: :lol: :lol:
eu não senti grande pressão no secundario, nao falo por mim...neste momento riu-me e sinto algum medo por saber onde vou estar daqui a 2 semestres e ter consciencia da minha irresponsabilidade
:lol:

Enviado: segunda-feira, 15 dezembro 2008 21:22
por Chong Li
Pedro Escreveu: Caso contrário, chegam à universidade e espalham-se por completo (que é o que vai acontecer a muitos dos alunos desta geração).
Ou não... depende do curso.
Há cursos que o seu grau de dificuldade equivale a um qualquer 7º ano de escolaridade. Sem exagero.

Enviado: quinta-feira, 18 dezembro 2008 16:05
por Ruizito
Chong Li Escreveu: Ou não... depende do curso.
Há cursos que o seu grau de dificuldade equivale a um qualquer 7º ano de escolaridade. Sem exagero.
Isso também é capaz de ser verdade. Até porque ainda não há muitos anos havia profissões que nem sequer requeriam curso superior e agora já existem cursos para fazer exactamente o mesmo que antes faziam com a escolaridade obrigatória.

Enviado: sexta-feira, 19 dezembro 2008 19:36
por Sergey Rjabtzev
Ruizito Escreveu:
Chong Li Escreveu: Ou não... depende do curso.
Há cursos que o seu grau de dificuldade equivale a um qualquer 7º ano de escolaridade. Sem exagero.
Isso também é capaz de ser verdade. Até porque ainda não há muitos anos havia profissões que nem sequer requeriam curso superior e agora já existem cursos para fazer exactamente o mesmo que antes faziam com a escolaridade obrigatória.
Cuidado com isso lol porque antigamente também não era preciso um curso para muita coisa e afinal veio-se a descobrir que se calhar era preciso saber um pouco mais para desempenhar a função com competência e acima de tudo segurança...uma coisa é saber fazer outra é saber o porquê de a estarmos a fazer e fazermos.