Cigarros proibidos em quase 100% dos estabelecimentos
Fumar vai ser proibido na quase totalidade de restaurantes, cafés, bares, discotecas e também hotéis de Coimbra. Proprietários, preocupados com a saúde de clientes e funcionários, mas também sem condições para criarem zonas para fumadores, resolveram abolir os cigarros dos estabelecimentos, já a partir do primeiro dia de 2008
Fumar vai ser, definitivamente, mais difícil a partir da próxima terça-feira. Quase 100% dos restaurantes, cafés, bares e discotecas de Coimbra e dos restantes 99 concelhos abrangidos pela Associação de Industriais de Hotelaria e Similares do Centro (AIHSC) vão abrir portas no primeiro dia de 2008 com o dístico de “estabelecimento sem fumo”. No caso das unidades hoteleiras, a situação é idêntica nas áreas comuns, sendo, na maioria dos casos, reservado um piso ou apenas alguns quartos para fumadores.
«É difícil encontrar um em que seja permitido fumar», confirmou ao Diário de Coimbra Sousa Martins, director-geral da AIHSC, confessando que «é muito complicado para os proprietários cumprirem as exigências inscritas na lei» porque «os procedimentos são muito dispendiosos e desgastantes», nomeadamente para os que se relacionam com o manuseamento de alimentos ou bebidas. «Nesse caso, é incompatível com salas para fumadores», adiantou.
Não conseguir cumprir as condicionantes da lei é apenas um dos factores que levou a quase totalidade dos proprietários a optarem por proibir a presença de cigarros nos seus estabelecimentos. No entanto, foi também tida em conta a protecção da saúde e do bem-estar, não só dos que frequentam, mas também dos que trabalham em restaurantes, cafés, bares ou outros, adiantou o responsável que desenvolveu acções de formação para proprietários e funcionários um pouco por todo o distrito de Coimbra sobre esta matéria.
Aliás, Sousa Martins acredita que dentro de muito pouco tempo a totalidade destes estabelecimentos passarão a ser “sem fumo”. E isto no que respeita restaurantes, cafés ou bares, mas também a unidades hoteleiras. «Há unidades hoteleiras internacionais, como o Íbis, por exemplo, que estão em processo de certificação e em que, neste momento, já é proibido fumar», continuou.
A perca de clientela não será, «definitivamente», a principal preocupação dos proprietários e da AIHSC ao cumprirem a nova Lei do Tabaco. «Não acredito que isso venha a acontecer. Acho que os fumadores vão aceitar perfeitamente as regras e não será muito difícil virem cá para fora fumar o seu cigarro», afirmou.
Lei “mais peremptória”
Aliás, das palavras de Sousa Martins fica a ideia de que esta nova lei não está a ser encarada pelo sector como um problema, uma vez que o que está em causa é um melhor ambiente e uma melhor saúde para todos. No entanto, não deixam de existir preocupações e críticas, nomeadamente para a «distorção do mercado» que provocam as regras que entrarão em vigor já no primeiro dia de 2008.
«A lei criou uma concorrência desleal entre estabelecimentos», afirmou Sousa Martins, criticando o facto de «o legislador ter permitido excepções» e, desta forma, deixado a possibilidade de os espaços comerciais com grandes áreas de reservarem espaços para fumadores, situação completamente impossível para pequenos estabelecimentos (que são a grande maioria, sublinhe-se).
«Não deveria ter havido excepções, a lei deveria ter sido mais peremptória, como acontece em Itália e Irlanda», sublinhou, mostrando-se crítico com o facto de ter sido atirada «a batata quente para os proprietários» na altura da decisão, especialmente num país em que, como sublinhou, a gastronomia, na sua maioria confeccionada e servida em pequenos estabelecimentos, «tem de ser protegida, uma vez que foi elevada à condição de património cultural nacional».
Com entrada em vigor já na próxima terça-feira, a Lei 37/2007, de 14 de Agosto, proíbe fumar em quase todos os recintos fechados, a não ser que sejam garantidas condições, designadamente a da ventilação directa para o exterior. Estudos independentes realizados em países que implementaram proibições ao consumo de tabaco mostram que, em média, os negócios se mantêm ao mesmo nível ou até melhoraram com a introdução destas medidas.
De sublinhar que, segundo um relatório recentemente divulgado, o Estado português gasta mais de 240 milhões de euros por ano a tratar doentes com problemas respiratórios atribuíveis ao tabaco. O documento do Observatório Nacional das Doenças Respiratórias indica que os custos directos atribuíveis ao tabagismo nos doentes respiratórios em ambulatório são de 203 milhões de euros e de 40 milhões nos doentes internados.
Diário Coimbra