T3.coimbra Escreveu:
Afecta um cantinho onde há silvas, ervas, degradação e 4 ou 5 árvores sem jeito.
Já te informaste por acaso acerca das vantagens que virão com essa obra, nomeadamente na zona da casa do sal?
Como utilizador diário da ponte do açude acho que uma nova ponte irá ter um impacto favorável no trânsito. Irão, concerteza, haver reestruturações profundas em toda a zona envolvente que trarão qualidade à cidade.
Sinto, contudo, alguma tristeza pelo facto de muitos não se lembrarem (outros simplesmente não conheceram) de como era essa zona que hoje é um canto de silvas, ervas e meia dúzia de árvores insignificantes.
Há alguns anos, ia passear ao domingo de manhã de mão dada com o meu pai ao Choupal, quando a Ideal ainda laborava, quando ainda se passava de automóvel na passagem de nível da Rua do Arnado, quando a passagem de nível da Segurança Social tinha uma casinha do Guarda, e a guarda da linha que lá morava nos dava os bons dias ao domingo de manhã... Lembro-me de ter estado na entrada do Choupal a ver aquela que seria a última cheia antes da entrada em funcionamento da barragem da Aguieira. Algumas memórias são um pouco ofuscadas, outras ainda as mantenho claras como a água do "frigorífico". Na zona onde hoje são as ditas silvas e ervas ficava a entrada do choupal, a ponte do açude não existia e a travessia era feita por uma pequena ponte que ligava à estrada antiga que vai para Bencanta (os restos dessa estrada ficam ao lado da via rápida na zona da escola agrícola, ladeada por plátanos enormes).
A entrada no Choupal era permitida à circulação automóvel até à zona do parque de merendas e cheguei a passar uma vez de carro com os meus pais mesmo dentro da zona do parque (que por algum motivo foi pontualmente permitida). Os restos de alcatrão que se vêem hoje no Choupal são parte dessa estrada que ia desde o túnel da Casa do Sal. Tinha uma vegetação riquíssima com choupos e eucaliptos enormes formando como que um túnel e havia gente por todo o lado. Aquele pântano que se vê hoje logo a seguir à ponte do comboio era um lago de águas verdes transparentes (o frigorífico, devido às água geladinhas) frequentado por muita gente no verão. Algumas pessoas mais corajosas como o pai de um amigo meu atiravam-se da ponte de madeira para o lago.... A margem norte do rio era constituída por um largo muro de blocos de pedra que ficaram soterrados nas obras; ainda há poucos anos se podia ver uma pequena parte desse muro mesmo por baixo da ponte do comboio.
Mas, no entanto, tudo muda e quando construiram a ponte do açude e fixaram o novo leito do rio, toda essa zona de entrada foi destruída. Foi um mal necessário, pois as obras de regularização do Mondego foram imprescindíveis. Com estas memórias que estou a partilhar gostaria de lembrar a alguns e dar a conhecer a outros que o matagal que ali existe hoje em dia que parece não ter valor (e da maneira que está não tem mesmo) era a entrada de um parque de grande orgulho para Coimbra.
Surpreende-me o facto de esta zona de que hoje tanto se fala ter estado votada ao abandono durante quase 30 anos, sem qualquer plano de recuperação, sem qualquer interesse pelos órgãos oficiais, e, enfim, sem a formação de qualquer associação ou plataforma ou seja lá o que for para ajudar sarar a ferida aberta há tantos anos.
Naturalmente que a ocorrência de obras causa um certo caos e destruição nas áreas envolventes, no caso do açude, foi uma ou duas centenas de metros na direcção onde hoje começa o Choupal. Teria sido útil a requalificação do espaço logo após as obras. A construção da nova ponte terá um impacto idêntico destruindo para além da zona de obra. O medo que eu tenho é que essa zona destruída nunca mais seja recuperada após a obras, e daqui a mais 20 ou 30 anos alguém diga que é uma zona de silvas e ervas sem qualquer valor...