Lino Escreveu:
A Prisão tem espaço de sobra para teatro e música, quer dentro quer fora de portas. E ali no coração da cidade.
Uma noticia sobre o destino que irá ser dado á prisao.
Por vezes, há boas notícias que podem virar um enorme pesadelo. É o que se adivinha com o desenvolvimento do processo de construção do novo estabelecimento prisional de Coimbra. Significando o fim da actual penitenciária, trata-se dum momento marcante de libertação dum espaço fantástico, situado no coração da cidade, que permitirá uma intervenção urbana que poderá ser histórica e decisiva no sentido da sua projecção e desenvolvimento.
São por de mais conhecidas intervenções urbanas realizadas por esse mundo fora. Aqui ao lado, em Espanha, são vários os exemplos que vieram a provocar autênticas "revoluções" na imagem das cidades em que foram realizadas bem como a constituir-se como elementos determinantes na galvanização colectiva para ganhar novos e exigentes desafios do futuro.
A localização, a dimensão e as potencialidades do espaço ocupado pela actual penitenciária permitem aquela que será por ventura a maior e mais relevante intervenção no tecido urbano consolidado de Coimbra, a realizar este século.
Estamos, portanto, perante uma relevante intervenção urbana que exige visão e ambição de cidade e perante uma oportunidade única, que vai dizer muito daquilo que queremos e que somos capazes de fazer.
A boa notícia do avanço do processo de construção de um novo estabelecimento prisional na periferia da cidade e o abandono das actuais instalações, que foi um sonho e ambição de tantos, remete-nos, contudo, para o pesadelo de que esse processo se desenvolva tal como foi acordado entre o presidente Carlos Encarnação e a ex-ministra da Justiça Celeste Cardona.
É que no tal acordo ficou estabelecida, logo à partida, a construção de habitação privada em parte do espaço a disponibilizar, garantindo assim que será Coimbra a pagar - depois de ter suportado durante anos os custos de ter no seu centro uma penitenciária de alta segurança - um novo estabelecimento prisional de âmbito nacional, que até poderá vir a ser "explorado" por privados.
Claro que neste acordo, como tem acontecido em tantos outros processos, o presidente Carlos Encarnação demonstrou uma enorme fraqueza na negociação com o Governo, fruto da fragilidade política que decorre da ausência duma visão, dum projecto e duma estratégia para Coimbra.
Poderia, sem grande esforço, ter-se inspirado em exemplos concretos - um dos que mais de uma vez já referi publicamente é o da La Villete em Paris - que permitiria, com as devidas adaptações, realizar uma síntese entre a cidade e a universidade, construindo ali a Univercidade de Coimbra.
Também poderia ter ouvido as sugestões da universidade e de personalidades, como o professor Carlos Fiolhais que várias vezes se tem pronunciado sobre o assunto, mas não, e aquilo que poderia vir a ser uma oportunidade fantástica para Coimbra vai, inevitavelmente, tornar-se num pesadelo.
O que vai acontecer é a alienação duma parte importante de espaço público para projectos imobiliários privados, como já aconteceu com o EuroStadium, e com a Câmara a realizar um ajardinamento que mais não vai fazer do que valorizar o investimento privado.
Esta vai ser a grande oportunidade perdida por Coimbra e a mais terrível herança que esta Câmara e em particular o presidente Carlos Encarnação vão deixar à cidade.
in Jornal de Noticias
Projectos imobiliarios privados no local da prisao??
Aquele espaço poderia ser muito melhor aproveitado, com algo de interesse publico, como já foi sugerido pelo Lino.
Em pleno coraçao da cidade, dava para um belo coliseu ou teatro.