Alegre faltou por “pudor” à sua homenagem
Manuel Alegre não assistiu à cerimónia de inauguração da sua estátua, mas agradeceu a homenagem da câmara de Coimbra.
O poeta Manuel Alegre agradeceu a homenagem que lhe foi prestada pela Câmara de Coimbra, mas, por “pudor”, não esteve presente na cerimónia de inauguração da estátua que a partir de agora o representa no Parque Dr. Manuel Braga.
Na sessão com que a Câmara de Coimbra, de maioria social–democrata, quis homenagear os 40 anos de vida literária de Manuel Alegre, o poeta acabou por ser representado pela sua irmã, a deputada Teresa Alegre Portugal, que leu um texto da autoria do homenageado.
Na mensagem que escreveu, Manuel Alegre realça que a iniciativa da autarquia e do seu presidente, o social–democrata Carlos Encarnação, uma “conspiração” preparada também com alguns amigos, “rompeu com a tradição bem portuguesa de maltratar os vivos e homenagear os mortos”. Contudo, o poeta admite ter sentido “um certo pudor” perante esta homenagem, que não recusou porque “foi impedido pela amizade”.
Mas, na mesma missiva, Alegre admite que esta inciativa acaba por ter uma outra dimensão: “O presidente da câmara e eu temos a mesma cor clubística, a cor negra da camisola da Académica, mas não temos a mesma cor partidária. Por isso, o gesto da câmara representa uma ruptura com a pior das tradições, aquela a que António Sérgio chamou o ‘reino cavernoso’ do sectarismo”, sublinhou o poeta socialista.
Ideia antiga
Questionada pelos jornalistas sobre as razões da ausência do irmão, Teresa Alegre Portugal notou que a resposta estava no texto que lera: Manuel Alegre, “por uma questão de sensibilidade, não gostaria de se olhar no bronze”.
Quanto ao facto de a homenagem ser prestada num período pré-eleitoral por uma câmara social–democrata a um militante socialista - cuja eventual candidatura à Presidência da República não foi apoiada pelo PS - Teresa Alegre Portugal considerou que “não houve oportunismo”. A deputada do PS lembrou, de resto, que a ideia de elaborar uma estátua já tinha sido apresentada pelo escultor Francisco Simões ao executivo anterior, presidido pelo socialista Manuel Machado, quando se encontrava a preparar as obras escultóricas para o Parque dos Poetas de Oeiras.
Homenagem justificada
Na sessão, o presidente da Câmara de Coimbra, que leu alguns excertos de poemas escritos pelo homenageado, considerou que Alegre “foi quem melhor cantou Coimbra”.
“Coimbra está–lhe profundamente agradecida pela sua obra, e por isso se justifica esta homenagem”, sublinhou Encarnação. Quanto à ausência do poeta, o autarca referiu que Manuel Alegre admitira “sentir–se constrangido em aceitar a homenagem directamente, porque a sua presença poderia ser interpretada como jactância da sua parte”.
Na obra em bronze colocada no Parque Dr. Manuel Braga, Manuel Alegre aparece envolto numa capa de estudante, a simbolizar o “espírito inconformista da academia de Coimbra”, nas palavras do poeta. A estátua foi oferecida à cidade pelo escultor Francisco Simões, que também escolheu o local onde seria colocada.
“A minha sorte é que, em obras do grande artista Francisco Simões, mesmo quando em pedra, em mármore ou em bronze, há sempre um coração a bater. O meu, onde quer que esteja, mesmo quando já cá não estiver, baterá sempre pela ‘Coimbra dos meus amores’, pela liberdade, pela justiça, pela igualdade, e pela poesia”, salientou Alegre, no texto que foi lido na cerimónia, durante a qual Paulo Soares e Rui Ferreira declamaram poemas e tocaram duas guitarradas.
Poucos socialistas presentes
À homenagem a Manuel Alegre associaram–se algumas dezenas de cidadãos, amigos, membros da universidade, da área da saúde e das artes, mas estiveram ausentes os principais representantes concelhios e distritais do PS, partido a que pertence Manuel Alegre. “Estão as pessoas que quiseram vir”, disse Teresa Alegre Portugal, quando questionada pelos jornalistas. “Lastimo, é o único comentário que posso fazer”, referiu o socialista Santana Maia, ex–bastonário da Ordem dos Médicos, sobre as ausências.
“Os actos ficam com quem os pratica”, considerou também o escultor Francisco Simões, afirmando “uma profunda tristeza por ver a ausência dos camaradas socialistas ao lado de outro camarada, Manuel Alegre”. “Aqui vi passar pessoas com os partidos metidos na lapela e com a bandeira da liberdade nos olhos”, concluiu.
Fonte: As Beiras
E já está inaugurada. Continua a parecer-me um acto eleitoralista, ainda mais "marcante" devido à actual situação do PS. Por um lado, temos Manuel Alegre, que foi forçado a retirar a sua candidatura... por outro, temos um Presidente da Câmara do PSD a homenagear um membro do PS... isto vai certamente reflectir-se nas eleições. Começa também a parecer-me que o PS está a tentar "esquecer" o Manuel Alegre, um pouco como o PP acabou por fazer com o Freitas do Amaral.