Seguem-se excertos de artigos da edição de 23 de Agosto do Diário de Coimbra, relacionados com este incêndio.
O incêndio começou na Serra do Carvalho, na tarde de domingo, mas transpôs o rio e entrou, literalmente, dentro da cidade. O Pinhal de Marrocos foi um dos sítios onde a desvastação foi mais significativa, com uma série de 3 casas e complexos habitacionais a serem alvo da ameaça das chamas. No Bairro de Vila Franca, junto ao Pólo II, onde se situa o novo edifício da Faculdade de Ciências, foi grande a aflição, muito embora não tenha ardido qualquer casa.
José Garcia Augusto explicou ao Diário de Coimbra que as chamas, vindas de junto do hipermercado Continente, surgiram por volta das 3h00, numa altura em que o incêndio principal era na Portela, no outro lado do rio.
Entre queixas à falta de limpeza e à quantidade de mato deixado “à boa vida”, frisava-se a carência de bocas-de-incêndio naquela zona.
À falta de ajuda dos bombeiros, a braços com outras situações, terão sido os populares, sozinhos, que evitaram males maiores, graças a «muito esforço e baldes de água», como explicava ao nosso jornal Rogério Alves, da Quinta da Malavada, onde chegou a arder uma casa, felizmente abandonada.
Neste núcleo constituído por habitações bastante antigas, não foi consumida nenhuma casa habitada, devido à solidariedade de vizinhos, que se prontificaram em ajudar. «Os bombeiros não estavam cá, os jovens é que salvaram tudo», dizia Joaquim Loureiro, ainda não refeito do susto.
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A madrugada foi também de aflição na Quinta da Boavista, onde os populares se juntaram para proteger as suas casas, com sucesso. No rescaldo deste fogo, em plena cidade, o Pinhal de Marrocos acabou por arder quase na totalidade, desde o Instituto Pedro Nunes ao Pólo II e do núcleo habitacional do Alto de S. João à Quinta da Boavista.
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Devastador. Cerca de 80% da Mata Nacional de Vale Canas foi devastada pelo fogo, no entanto, o presidente da Câmara Municipal de Coimbra garante que para algumas das espécies afectadas pelas labaredas ainda há possibilidades de regeneração.
Fazendo o ponto de situação às 14h00, Carlos Encarnação apontava a área das Torres do Mondego como a «mais preocupante», com a agravante de não contar com a ajuda de meios aéreos, ao contrário do que acontecia ali perto, em Roxo, onde estavam operacionais dois canadairs e um helicóptero.
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Por volta das duas da madrugada, na rua Brigadeiro Correia Cardoso, que liga os Olivais ao cimo da Avenida Elísio de Moura, temia-se o avanço de uma frente de incêndio que ameaçava galgar a circular externa. Os moradores atravessavam a rua com mangueiras e baldes de água, protestavam contra a ausência total de bombeiros. Quando estes aqui chegaram, já dois automóveis tinham sido destruídos e uma fagulha incendiara um apartamento cujos donos estavam de férias. De qualquer modo, havia ainda que apagar as chamas que consumiam árvores e mato encostados ao parque de estacionamento de um prédio daquela rua. O problema é que o autotanque dos bombeiros já não tinha água e a boca-de-incêndio ali existente não funcionava… «Isto é uma vergonha», protestava um jovem, que vira a mesma encosta arder há oito anos atrás. Uma septuagenária comparava os dias de hoje com outros tempos: «Quando vim para aqui, era só mata por aí abaixo e não havia fogos».
Dos Bombeiros Voluntários de Coimbra, que deitavam água para dentro de uma casa em chamas, no Alto dos Malheiros, Aurélio Relvas não queria acreditar no que estava a acontecer: «Nunca vi uma coisa destas, é uma coisa desconforme», desabafava. Mais em cima, no Picoto dos Barbados, as chamas já tinham queimado parte da Mata Nacional de Vale de Canas e avançavam para o lado do Zorro. A situação no Tovim também suscitava grandes preocupações.
Quando o dia começava a clarear, população e bombeiros continuavam a vigiar e a bater-se como podiam contra o fogo e o vento, ainda no Tovim, nos Alto dos Malheiros, no Pinhal de Marrocos e até na Quinta da Maia, que se julgava protegida pelos prédios da Elísio Moura. «Isto parece um filme de terror», dizia um agente da PSP à paisana, no Chão do Bispo, por volta das seis e meia da manhã, quando um bombeiro meio intoxicado dali foi levado pelo INEM e uma outra boca-de-incêndio deu mais uma nega. «Esta merda é Portugal», protestou o bombeiro sem água. A poucos metros, até a bonita palmeira de uma vivenda do Chão de Bispo ardia impunemente.
Fonte: Diário de Coimbra
Nesta edição também é mencionado outro incêndio neste distrito, na Pampilhosa da Serra:
É de negro que se pinta a paisagem na Pampilhosa da Serra. Depois da chacina dos incêndios fazem-se contas à desgraça consumida, primeiro em 96 horas a arder, seguidas de um segundo incêndio que durou mais 48 horas. Semearam-se cinzas num concelho que já tinha sido palco de grandes incêndios há dois anos.
Fazem-se contas e «sobra 7 a 8% do concelho», tudo o resto ardeu, afirma-nos Hermano Almeida. As chamas devoraram seis casas e destruíram uma mancha florestal numa área entre os 30 e 32 mil hectares. Ontem, ainda era tempo de vigilância, que estava a ser feita «com os meios possíveis».
«Muito pessoal foi desmobilizado da Pampilhosa da Serra e foi combater os incêndios em Coimbra e Miranda e o drama é este. Já não existem mais bombeiros e o pessoal que anda a combater anda todo extenuado, qual é o rendimento destes homens?» questionou o presidente da Câmara, consciente de que «há bombeiros a trabalhar no terreno há 48, 70 e 80 horas, ninguém aguenta este esforço físico».
Fonte: Diário de Coimbra